Ausência - Flavia Cristina Simonelli

AUSÊNCIA
FLAVIA CRISTINA SIMONELLI
Novo Século


Este é o segundo livro da autora que tive o prazer de ler, com 280 páginas, que me atingiu desde o princípio por focar em um drama comum que muitas famílias passam com algum ente querido: o Mal do Alzheimer, um
a doença degenerativa perturbadoramente devastadora que faz com que você regrida no passado, como também conhecida pela dor, pelo inconformismo, pela aceitação da ausência, da perda e da morte.

“O que é um homem sem memória? Um homem que não se reconhece mais em nenhum tempo, nenhum lugar, nenhum rosto?”

Pág. 9

Aos 73 anos, Ervin do Apolinário levava uma vida tranquila ao lado da esposa Margarida com quem tem dois filhos: o advogado Alberto e a psicóloga Natasha. Era um renomado e erudito professor de literatura. Trabalhava demasiadamente e sua esposa não entendia seu desgaste físico e emocional carregado de responsabilidades.

Um dia começa a perder a memória gradualmente e seu lugar no mundo. A partir daí, as coisas começam a ficar incompreensíveis afetando sua rotina familiar e profissional, deixando-o depressivo e agressivo, além de ficar completamente ausente.


- Os anos passam e levam o que temos de melhor, a vitalidade. Sem vitalidade, a memória nos escapa. Mas envelhecer é aprender a perder, perder a cada dia um pouco mais, porque a cada dia acordamos com um pouco menos.

Pág. 60

Teimoso e irredutível se recusava a consultar o Dr. Daniel, um neuropsiquiatra, que não queria reviver o drama de um passado doloroso permeado por lembranças desconfortáveis. Apesar de protelar, acaba sendo motivado pelo intelecto do paciente.


- Me vejo sem minhas capacidades, doutor, sinto-me... nu diante do mundo.
Pág. 125

Decidiu ser médico para compreender a enfermidade da avó, que o deixou impotente e isto lhe deu o impulso necessário para curar todos os males humanos. Ao ver este homem culto e ilustre perder a sua identidade, fantasmas do passado ressurgem com força total trazendo dor, solidão, abandono, medo e perda, porque nunca conseguiu alcançar a si mesmo e isto deixará seu mundo ainda mais conturbado.
Queria que um dia pudesse se libertar de seus próprios problemas a ponto de enfrentar um doente de Alzheimer, alguém que perde a memória, a identidade, e todos os afetos que constroem na vida, para adentrar sempre em uma página em branco.

Pág. 44

Daniel é casado com a bela e dedicada Milene e tem dois filhos, Felipe e Mateus. Após dezessete anos, a união estável está em crise, porque sua esposa ciumenta, carente de afeto, atenção e romance, vive enchendo-o de cobranças. Reservado e responsável, levava uma vida correta, sem sobressaltos e emoções, mas feliz e acomodada.

Até que seu mundo desaba ao sentir-se fortemente atraído por Natasha, uma mulher inteligente, frágil e sensível, que foi infeliz no casamento. Tivera fortes desilusões amorosas que a fizeram oscilar entre a alegria e a dor, a tristeza e a raiva.

Trata Milene com descaso, enquanto esta se doava pra ele e tinha um sexto sentido de que algo estava por vir. Apesar de íntegro, ele tinha suas fraquezas, que o faziam oscilar entre a fidelidade e a traição (nesses momentos, o médico conseguiu me tirar do sério! Fiquei com pena de sua esposa.) pelo fato de ser arrebatado por sentimentos súbitos que colocará em risco sua reputação e sua ética profissional.

Sente um entusiasmo renovado por Natasha que o compreendia e o admirava por seu ideal, mas que o deixará numa encruzilhada por não conseguir controlar seus impulsos. Acaba perdendo o bom senso por conta dessa atração visceral transpondo todos os limites até que se vê preso numa armadilha do destino, porque transgredirá suas convicções, deixando-o cada vez mais vulnerável e este sentimento contraditório imperará sobre todas as suas convenções sociais.

A vida lhe mostrará duras provas que só o destino lhe trará. Sairá vitorioso dessa batalha inimaginável que está colocando em risco sua integridade moral e sua família, já que sempre preservou a ética, o respeito e, acima de tudo, a verdade?

A leitura é envolvente desde o princípio, cuja narrativa é em terceira pessoa entremeada entre o presente e o passado de Daniel. Não tive como conter a emoção ao ler o prefácio escrito pelo Carlos Moreno
, ator (para quem não o conhece pelo nome, ele era o garoto propaganda da Bombril) e Diretor de Divulgação da ABRAz-Associação Brasileira de Alzheimer, e em vários momentos com os dramas de duas famílias que são atormentadas pelos percalços da vida.

“A Doença de Alzheimer é uma experiência devastadora.

Para o doente, a perda gradual da memória é o apagar do mais essencial que possuímos, do que nos define e nos diferencia, daquilo que faz de cada um de nós, humanos: nossa identidade.

Para o familiar, é a dor de um luto prolongado, pois, embora esteja vivo, aquele à nossa frente vai, pouco a pouco, deixando de ser quem um dia conhecemos e amamos.”

Trecho do prefácio na pág. 7.

A ilustração da capa representa perfeitamente o enredo, o que achei sensacional. O livro retrata de forma realista todo o drama de um paciente com Alzheimer, porque há um grande desgaste além de um esgotamento físico e emocional familiar que renunciam à própria vida em função do doente, que vai tendo uma perda gradativa da memória e com o tempo vai perdendo as funções da linguagem e alterações comportamentais.

Foi triste ver o drama de Ervin, que sufocou na maior parte de sua vida, suas emoções e sentimentos, perder justamente os pensamentos. Não tem como não ficar tocado ou balançado porque é doloroso demais por ser um caminho sem volta. Algumas situações foram muito familiares. Seu drama me comoveu!

- Não aceito! Não aceito uma doença que não pode ser curada, como se a pessoa entrasse num túnel escuro sem saída. É uma injustiça do destino.

Pág. 177

Este livro merece ser lido e compartilhado com todos, porque apesar de ser impactante é uma ótima referência a muitas famílias que passam por essa situação como também aos leigos. Serve de alento por trazer um pouco de esperança a esse mal devastador, mas com o tempo vamos aprendendo a lidar e a conviver com o doente tornando a vida dele mais fácil.

Além disso, o livro aborda muitos questionamentos para reflexões e nos ensina o quanto a família, o amor e o perdão são importantes em nossa vida. Devemos valorizar cada momento como se fosse o último e a elevar a nossa autoestima mudando a nossa percepção do presente através do caminho que percorremos com o intuito de mudar o nosso futuro.

Este romance conseguiu superar todas as minhas expectativas. Foi muito difícil descrever em palavras tudo o que realmente senti no decorrer da leitura. Um enredo emocionante que tocará o seu coração. Por isso, está mais do que recomendado!

Saiba mais sobre a autora e suas obras: Site Oficial | Twitter | Ausência no Facebook
 
 

15 comentários:

  1. Parece mesmo MUITO TOCANTE, Carlinha. É um livro que quero ler, mas não agora. Estou em uma fase alto astral demais, rs.


    Beijocas

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  2. Francielle Lima02/09/2012, 20:49

    Minha irmã trabalhou com alguns idosos que tinham Alzheimer e a descrição é se encaixa perfeitamente.
    Meu avô também teve, mas o caso dele ainda não era grave, porém ele já não se lembrava de mim :/ Me confundia com a minha irmã, mas ele tinha outras doenças que o levaram a falecer...
    Os quotes escolhidos são bem intensos e refletem bem como é a situação da pessoa e das famílias que passam por isso...

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  3. Oi, Francielle.

    Este livro é bem intenso mesmo. Não deu para citar todos os quotes, senão a resenha ficaria imensa. Mas garanto que é um livro emocionante que serve de alento para muitas famílias que passam por essa situação.

    É tudo muito triste e devastador! Só quem passa por isso, entende todo o drama do livro, que é muito palpável.

    Você vai adorar! Recomendo!

    Beijos.

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  4. OI Carlinha!

    Gostei do tema do livro! Não consigo imaginar uma família passando por esse problema. Deve ser triste e desolador...

    Adorei a resenha!

    Bjs!

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  5. Oi, Ka.

    É terrível. Ao ler o livro, você sente na pele o drama deles.
    Com certeza, você vai amar. O livro é um alento para todas as famílias que passam por isso.

    Beijos.

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  6. Débora Lauton02/09/2012, 20:49

    Oi Carlinha,


    Esse livro parece ser muito bonito... só não gostei de saber sobre essa coisa de traição, não consigo ler livros com esse tema...
    Concordo com a Leninha, essa doença é uma das coisas que mais tenho medo...


    beijos,

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  7. Oi, Débora.

    O livro é profundamente tocante e também não tolero traição. Acho isso abominável!

    Qualquer doença é triste. Não desejo isso a ninguém.

    Beijos.

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  8. Oi, Leninha.

    Que bom, amiga! Foi muito difícil expressar todas as minhas emoções, mas consegui colocar a essência do enredo. Este livro é maravilhoso e como sei que temos os mesmos gostos, com certeza você também vai se emocionar.

    É uma doença terrível que abala a todos. É triste e doloroso ver alguém definhando aos poucos. Eu temo qualquer doença. Tantos que tem saúde e se esquecem de agradecer a Deus por essa dádiva!

    Beijos.

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  9. Como sempre Carla, você conseguiu me emocionar com uma resenha.
    Felizmente tenho agora meu exemplar em mãos e já posso apreciar a leitura, que pelo jeito vai me emocionar.
    Imagino como deve ser triste perder aos poucos o que relamente somos, nossas lembranças.
    Devo confessar que essa doença é a que mais temo no universo.
    Que Deus nos livre dela!
    Beijinhos!

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  10. Oi Carlinha!


    A gente já havia conversado sobre esse livro, né? Fiquei com muita vontade de ler, porque passo por uma sensação um tantinho semelhante, coisa que você já sabe. Quem sabe eu não o leia em breve? Pelos trechinhos que você colocou, pareceu ser bem escrito. Nesse eu apostaria.


    Bjs!

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  11. Oi, Lilian.

    Exato. Este livro é maravilhoso e um grande alento para as famílias que estão passando por isso. É de grande ajuda. Aprendi muito, viu?

    Até tinha digitado mais citações, mas acabei deixando só essas senão a resenha ficaria imensa. Acho que consegui expor o essencial.

    Este livro eu recomendo sem medo de errar. Vale a pena!

    Beijos.

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  12. Oi, Carlinha! Mais uma resenha sua que me deixa com água na boca para ler o livro! Não conhecia "Ausência" ainda, mas confesso que o tema abordado me deixou bastante interessada. O Mal de Alzheimer deve ser realmente assustador. E, diante dos trechinhos que você colocou, dá para perceber que a autora trata com sensibilidade o tema!


    Um beijo,
    Inara - http://lerdormircomer.blogspot.com.br/

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  13. Oi, Inara.

    O livro me tocou profundamente! Aprendi muito com ele, especialmente coisas que desconhecia sobre a doença. É tudo muito desolador.

    Há muitas citações lindas no livro. Se eu citasse todas, minha resenha ficaria imensa [risos]. Mas com essas dá pra você saber o que encontrará.

    Pelo que soube, a Flavia fez uma pesquisa intensa para escrever este livro, que é uma ótima referência a todos. Vale a pena ser lido e compartilhado.

    Leia, sim. Você vai amar.

    Beijos.

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  14. Meu coração ficou apertadinho. Não sei se conseguiria ler mas fico feliz por ele existir. Parabéns a autora por escrevê-lo.

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  15. A história do livro é muito linda.
    Na verdade eu já tinha ficado encantada desde que li a sinopse quando você mostrou nas suas aquisições.
    Agora mais do que nunca quero ler, pois vejo que é muito emocionante e verdadeiro. Podemos aprender muito com ele.

    http://grilsandbooks.blogspot.com.br/

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