25
jul
2011

Lago dos Sonhos - Kim Edwards

Lago dos Sonhos
Kim Edwards
Editora Arqueiro

Este livro que, no original em inglês intitula-se The Lake of Dreams, é um romance de apenas 336 páginas, cuja capa achei belíssima.

A leitura foi emocionante e, ao longo da narrativa, em primeira pessoa sob a perspectiva de Lucy, percebi que alguns leitores, em especial o público feminino, acabarão identificando-se com as situações vividas pela protagonista.

Aos 17 anos, Lucy Jarrett, era uma jovem rebelde e inquieta. Queria estudar, conhecer o mundo e ser independente. Saíra de casa para cursar a faculdade após a morte do pai, porque ficou anestesiada, mas decidiu fugir do silêncio que havia se abatido sobre sua casa, já que tinha um espírito aventureiro. Apesar de apoia-la, sua mãe sempre foi contra sua decisão de morar fora, por conta dos atentados terroristas, mas através de sua persistência, tornou-se bem-sucedida.

Sem destino e rumo incerto viajou o mundo, mas atualmente, mora no Japão em uma aldeia perto do mar, onde vem ocorrendo alguns terremotos. Incomoda-a o fato de estar desempregada e com a vida estagnada, apesar de ter sido bem-sucedida
profissionalmente, e isto deixa-a amargurada, porque não quer ser dependente de ninguém. De tanto ficar à toa, começou a lecionar inglês. Era hidrologista e passou cinco anos de sua vida fazendo pesquisas em empresas multinacionais, onde acabou apaixonando-se pelo gentil e acolhedor Yoshi, que projetava pontes para uma empresa. Ambos viviam isolados do mundo que conheciam, mas tinham em comum, o amor pelo trabalho e por viagens, mas recentemente o relacionamento está em crise.

Ela mantinha contato com a mãe e o irmão, que aparentemente seguiam suas vidas normalmente após a morte do seu pai, mas Lucy nunca superou esse choque, que abalou-a profundamente, já que ele sempre contava histórias com finais felizes. Um dia, recebe a notícia de que sua mãe sofreu um acidente.

- Estou dizendo que nos últimos tempos você tem parecido muito triste e sozinha, só isso.

Pág. 15

Com o apoio, a gentileza e a infinita paciência de Yoshi, pela tristeza que ela vem carregando e reprimindo há muito tempo, Lucy decide visitar sua família no Lago dos Sonhos e fica chocada em ver as mudanças ocorridas ao longo dos dez anos que se passaram.

Seu irmão está com a vida quase feita; sua mãe, que era uma mulher atraente e cheia de vitalidade, pensa em vender a propriedade da família; e Keegan, seu namorado da adolescência que era tenso, revoltado, atraente e taciturno, agora era tranquilo com um sorriso doce e torto, porque deixou de lado sua rebeldia. Tem um filho pequeno, além de um próspero ateliê de fabricação de vidro.

Isso abalou-a, porque sentiu-se como se tivesse sido deixada pra trás, como se estivesse estagnada no mesmo lugar, apesar das viagens constantes, porque sempre sonhou com a universidade e a sua liberdade. Guardava dentro de si qualquer desejo de enfurecer-se com a injustiça generalizada da vida.

Ao ver Keegan novamente, seus sentimentos vieram à tona como se nunca tivesse ido embora. Ele
estudou belas-artes e nunca teve medo de arriscar-se. Suas vidas estavam entrelaçadas antes da morte de seu pai, mas se tivesse ficado, teria uma vida interessante e segura ao seu lado.

(...). Eu preferia a emoção dos passeios de moto, ou então as noites em que pegávamos a canoa e saíamos pelo lago escuro, remando com força e depois deixando a embarcação flutuar, tentando não fazê-la virar enquanto nos beijávamos.

Pág. 62
Foi tudo inesperado, como costumam ser os momentos de pura beleza. (...) tentando entender as perturbadoras descobertas do dia, os cervos começaram a aparecer entre as árvores. Lendários cervos brancos, selvagens e tímidos. (...) fiquei imóvel. (...).

Pág. 68
(...), aos 8, 10, 12 anos, (...) rezava pelas coisas de sempre: notas, paixonites, o filhote de passarinho que caíra do ninho e cuja minúscula vida estremecia na palma da minha mão. Na sétima série, alarmada com a poluição, eu rezava muito pelos rios e lagos.

Pág. 71
- Bem, eu saio de barco. Fico sentado, com a água à minha volta, pensando nas coisas que deram muito certo em minha vida e em como eu poderia ter feito algumas delas de outro modo. Depois penso nas coisas boas, uma por uma. Sinto-me grato.

Pág. 77

Com essas descobertas, precisa encarar a vida de frente e enfrentar a realidade nua e crua dessas mudanças, apesar de ter julgado os que ficaram, mas, na realidade, é ela quem nunca conseguiu superar o seu grande trauma após a morte do pai, que era um homem bom, mas genioso. Gostava de acreditar que o passado não tinha nenhum poder sobre ela, mas sempre esteve presa a ele de forma distante e solitária, assim como seu irmão Blake.

Tudo estava congelado no tempo, como se o mundo houvesse estagnado depois da morte de meu pai.

Pág. 36

Seus pais conheceram-se quando trabalhavam como voluntários em um jardim comunitário. Sempre houve uma forte tensão entre seu tio e seu pai e até hoje ninguém sabe o motivo dessa desavença familiar por conta de uma história mal resolvida. Lucy não entende porque seu tio é assombrado pelo passado.

Ao encontrar vários bilhetes e um tecido com belos desenhos no fundo de um baú, começa a investigar e desvendar quem foi sua antepassada. Ao descobrir, novas pistas lançam uma luz sobre uma parte da família até então desconhecida:
Rose, uma viúva sufragista que, por alguma razão, abandonou Iris, sua única filha, e se envolveu com um artista famoso na época. Lucy continua no escuro, porque não sabe nada a não ser que elas eram ligadas à sua família. Nunca ninguém falou nada sobre elas.

(...). No início, senti uma onda de animação: se alguém se dera o trabalho de esconder aquilo, é porque devia ser importante. (...), eram, na maioria, panfletos e pequenas revistas que pareciam ter sido escritas por defensoras do direito de voto feminino, (...).

Pág. 38

Fascinada com a raiva e o sentimento de perda e paixão ali contidos e, ao mesmo tempo, intrigada com a história dessa mulher e com os motivos pelos quais sua existência nunca fora mencionada, Lucy sai em busca da verdade que até então permaneceu oculta, cujo mistério desejava elucidar encaixando todas as peças no lugar para solucionar o intrincado quebra-cabeça.

(...) - e devem - aprender a valorizar a história dessa sua boa fortuna por meio das experiências de quem não se limitou a testemunhar os fatos, mas que também os construiu. (...).

Pág. 100

Lucy sente que essa história tem alguma relação com a sua vida e, achava-a empolgante e ao mesmo tempo, assustadora, porque fica-se perguntando o que houve com elas, porque houve um escândalo na época e isso precisou ser abafado por algo que aconteceu.

(...). Meu coração se acelerava quando eu pensava que havia uma história de família que ainda não tinha ouvido, uma forma de pensar no passado que talvez pudesse destruir a maneira como eu entendia as coisas. Era emocionante e também um pouco assustador, como um feitiço.

Pág. 81

Curiosa para saber o que houve com Rose e Íris, sua filha, e como suas vidas contribuíram para construir a sua, porque o mundo era um lugar instável, Lucy se dá conta que a vida dessas mulheres eram tão complexas e caóticas quanto a dela, cheia de erros, decepções, boas intenções frustradas.

Fiquei imaginando como teria sido a minha vida se não houvesse tido a oportunidade de estudar, trabalhar ou mesmo conhecer os fatos mais básicos sobre meu corpo. Por trás da minha independência escondia-se uma história difícil. (...).

Pág. 244

O que ela vai descobrir mudará para sempre a percepção que tem de sua família, da morte do pai e de sua própria vida.

Este é o primeiro livro da autora que eu leio, e identifiquei-me com alguns conflitos vividos por Lucy, com suas dúvidas, indecisões, frustrações, anseios e sonhos. Como diz a famosa frase do filme clássico “O Mágico de Oz”: “Não há lugar melhor como o nosso lar”. Só quem retorna ao lar em que passou a infância entenderá todo o drama e nuance, regado de uma nostalgia dos tempos vívidos, relembrando aquela época em que tudo era tão doce e amargo, ao mesmo tempo, devido aos dramas e dificuldades familiares. Viver era tão simples, e isso faz com que tornemos introspectivos acerca do momento que estamos vivendo e chegamos a pensar
: “Nós éramos felizes e não sabíamos”. Quantas vezes isso já passou pela minha cabeça.

As cartas de Rose, eram profundamente tocantes e emocionantes, que me fez ver que, às vezes, o passado esconde segredos capazes de transformar nossas vidas e mudanças são sempre bem-vindas, de forma introspectiva, desde que calem no fundo do nosso âmago e venha direto ao coração e isso não é deslocando-se de um destino a outro como um barco à vela sem rumo a navegar. Kim Edwards, assim como Nicholas Sparks, é mestre em escrever sobre as emoções e as complexidades das relações humanas.

Gostei muito desse livro, cujo enredo de auto-conhecimento é de uma grande sensibilidade, mas é minucioso nas descrições, que eu apreciei muito, porque a cada detalhe me via naquela cena em particular, entre as paisagens, os lagos, o lugar paradisíaco. Era maravilhoso!

Não recomendo, para quem não curte esse tipo de gênero literário. Em segundo lugar, pelo fato da narrativa ser lenta, o que a princípio incomodou-me um pouco, porque queria saber o que viria a seguir (risos), mas para quem não é acostumado e paciente, pode acabar sendo cansativo e maçante; e em terceiro lugar, pelo fato de ser bem detalhista nas descrições, o que vai acabar frustrando-o.

Um ponto que achei desfavorável na obra foi em relação ao Keegan, que foi um personagem apaixonante, que envolveu-me desde o princípio. Torci muito pelo romance dele com Lucy, mas a forma como a autora conduziu o desfecho dessa história, acabou decepcionando-me. Foi muito frustrante, porque tanto Keegan quanto outros personagens tinham tudo para ter um final merecido. Senti-me como se tivesse faltando uma lacuna na história de cada um deles, mas mesmo assim a história de Lucy teve um final surpreendente.

Mas, eu recomendo “Lago dos Sonhos”, para quem quer descobrir um mundo de possibilidades, como forma de redescobrir sobre si mesmo, aumentando sua autoestima!

5 comentários:

  1. Ui, amei a resenha!
    Adoro livros assim, que envolvem o leitor, mesmo que o final nos surpreenda ou nos decepcione.
    Ainda bem que da forma que você resenhou o livro atiça nossa curiosidade a ponto de desejar muito ler.
    Mais uma vez sua resenha ta linda, e me fez desejar o livro.
    Um aparte, amei a capa, ela é linda não é?
    Beijos!

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  2. Esse livro parece ser bem emocionante. Tenho uma certa vontade de ler, mas ao mesmo tempo fico com o pé atrás por conta de algumas resenhas negativas.

    Beijos!

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  3. Oi, Carlinha!

    Adorei a história, mas livro muito parado não faz muito o meu tipo, kkkkkkkkk

    Bjs

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  4. Nossa, amei a resenha. Com certeza vou ler. Já me identifiquei com uma parte da história, lendo sua resenha. Também perdi meu pai e ainda não me recuperei.
    Parabéns.

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  5. Amei a resenha, Carlinha... e lá vai mais um livro pra lista de futuras compras...

    Acho que tenho que parar de ler suas resenhas... elas ficam fazendo minha lista crescer e crescer... u.u rsrs

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