Diário da tua Ausência - Margarida Rebelo Pinto

DIÁRIO DA TUA AUSÊNCIA
MARGARIDA REBELO PINTO
Bertrand Brasil

Este é o primeiro romance desta autora portuguesa que leio, com 128 páginas, que retrata os amores e as desilusões de uma mulher profundamente apaixonada, que sente e respira esse sentimento em cada parte do seu ser, o que torna tudo muito realista, porque muitas mulheres se entregam ao amor incondicionalmente por um homem, que depois as abandona deixando-as sozinhas com os filhos, esperando a sua volta com suas dores e amores incompreendidos.

Tu aceitas-me como sou, da mesma forma que eu te entendo e aceito com todos os teus defeitos. De que me serve escrever-te esta carta se não abrir o meu coração de uma forma incondicional?

Pág. 27

Este diário mostra fragmentos de uma confissão da personagem através de uma linda declaração para que o seu amor ausente jamais a esquecesse.

O título caiu como uma luva, porque reflete exatamente o enredo, já que ele é um cidadão do mundo, devido à sua sede insaciável de viajar. Há mais de vinte anos passa férias em Lisboa visitando amigos, família sem querer voltar por conta do trabalho e de seu novo relacionamento. Sabia muito pouco a seu respeito, só que ele morava fora desde os trezes anos de idade, mas desde que se conheceram criaram fortes laços de amizade e cumplicidade, que culminou nessa relação.

(...) não foi como um novo amigo que olhei para ti. Olhei para ti como uma mulher olha para um homem quando o deseja, quando sonha com ele, quando quer entregar-se a ele e senti-lo dentro dela.

Pág. 40

A narradora, residente em Lisboa, era uma pessoa romântica, impetuosa, impulsiva, voluntariosa e aventureira, que viajou o mundo e aperfeiçoou-se em várias línguas, porque sonhava realizar-se profissionalmente. Foi criada num lar cheio de amor e vivia rodeada de amigos. Depois de um casamento falido, que lutou para mantê-lo por causa do filho, está divorciada há sete anos.

Conheceu-o num momento sombrio de sua vida devido às desavenças com o namorado. A partir daí, tudo aconteceu de forma intensa e inequívoca, porque assim como ela, ele também era teimoso e obstinado em suas convicções. Foram dois anos de um amor tranquilo, sem limites e verdadeiro, repleto de afinidades, cumplicidade e sentimentos profundos, construído com muita paciência e dedicação, onde foi muito mais feliz do que no seu casamento de sete anos, porque eles se completavam, mas até hoje se questiona porque este amor tão pleno acabou.

Sentia-se paralisada, ferida, perdida, sem saber para onde ir, sem acreditar no que aconteceu, porque ficou em estado de choque, já que sempre esperou das relações um espírito de compromisso e continuidade.

(...), a dor da perda não diminui com a lucidez nem se dissipa na razão. A dor tem vida própria e só o tempo e a generosidade da existência a podem apagar.

Pág. 33

Quer ultrapassar a barreira de um amor ausente, porque seu destino é vago e incerto e não quer desistir do amor, mas não quer aceitar esta realidade que está atormentando-a e incomodando-a. Há mais de vinte anos lembra a magia que viveu.

A minha imaginação fértil reconstrói vezes sem conta a tua imagem abençoada cuja recordação gosto de inventar para meu deleite e consolo nos dias em que a tua ausência se torna pesada no meu coração.

Pág. 32

Será que eles voltaram? Para saber qual o desfecho no destino dos personagens, você terá que ler o livro, claro! [risos].

Onde estás, meu querido? Por que trocaste as nossas conversas pelo silêncio? Por que te escondeste atrás da distância, depois do que vivemos juntos?

Pág. 54

A escrita da autora é de um lirismo, que chega a ser pungente e profundamente tocante, mesclando fatos históricos e atuais, com músicas, filmes, livros de grandes odisseias, o que deixa a leitura ainda mais convidativa com suas analogias sobre a banalização do amor e da instituição do casamento. Apesar de não ser uma história com início, meio e fim, o enredo é focado nas reminiscências da personagem, que traz também belas mensagens de reflexão nas entrelinhas, cuja narrativa lembrou-me do livro "Fora de Mim", da Martha Medeiros.

Quando um homem ama uma mulher, esse amor cega-o. Só pensa no momento presente, aqui e agora. Quando uma mulher se apaixona por um homem, pensa sempre no futuro, agora e sempre.

Pág. 69
O amor é mesmo assim; damos aos outros o nosso melhor sem sequer o saber. E tudo o que damos nunca se perde, nada se perde, apenas se transforma e se guarda numa caixa que só o futuro conhece e desvenda.

Pág. 82
(...) sem amor nada resiste ao tempo, ao desgaste, à rotina, ao peso surdo e devastador do dia a dia. (...) amor é construção e dedicação, e por isso não há amor, há provas de amor.

Pág. 84

Por isso, esse livro está mais do que recomendado a todas as mulheres e homens que já passaram por estes conflitos em seus relacionamentos amorosos em algum momento de suas vidas!

A todas as mulheres que amam e sabem esperar.
A todos os homens que querem, mas não as sabem guardar.


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