O Azarão - Markus Zusak

O AZARÃO
MARKUS ZUSAK
Bertrand Brasil

Nem sei como começar a falar deste livro (The Underdog, 176p.), que é o primeiro volume da trilogia dos irmãos Wolfe (Cameron, Ruben, Steve e Sarah), que foca na história de Cameron que narra o seu dia ao lado da família humilde, batalhadora e zelosa.

Filhos de um encanador e de uma diarista severa e corajosa. Os filhos eram casos perdidos, deprimentes e patéticos, já que eram uns delinquentes, arrumavam confusão, eram demitidos dos empregos e eram humilhados em seu próprio lar. Enquanto Ruben era exibicionista; Steve era o queridinho por ser bem-sucedido e responsável e Sarah vivia se agarrando com o namorado.

Não gostavam de ver os pais decepcionados e Infelizes com a vida que levavam com o talento que tinham em envergonhá-los. Achavam que eram uns perdedores, mas todo perdedor que cai sempre se levanta e segue em frente. Essa é a lei da vida.

Será que os anos nos venceram?
Será que nos enfraqueceram?
Como foi que passaram feito grandes nuvens brancas desintegrando com tanta lentidão que não podíamos nos dar conta delas?
Pág. 119

Aos 15 anos, ele leva uma existência infeliz e solitária porque é impopular. Para suprir esse vazio vive se metendo em encrenca por causa de Ruben que pratica atos de vandalismo pela vizinhança, mas nada sai como o planejado, já que seus planos são completamente frustrados.

Inseguro como qualquer adolescente típico rumo à fase adulta está repleto de anseios, incertezas, medos e frustrações acerca da vida despreocupada que leva sem pensar no futuro. Por ser alguém desesperado e ansioso tinha uma moral duvidosa e um orgulho selvagem por emanar confusão. Exasperado, gostaria de ter alguém como sua irmã, com quem pudesse compartilhar seus temores.

Sozinho, e não me sentia preparado para lidar com isso. Muito de repente. Sim, de repente, não me senti como se pudesse lidar com meu sentimento de solidão.
Era assim que ia ser para sempre?
Eu sempre ia viver com esse tipo de falta de confiança em mim mesmo, de dúvida em relação à civilização à minha volta?
Pág. 106

Inconsequente e com a autoestima baixa, sente-se um lixo, por isso luta para ser alguém e ter seu lugar no mundo, até que um dia se apaixona por Rebecca, a garota que sempre idealizou, mas sabe que para conquistá-la terá que mudar sua maneira de agir e de se autodepreciar deixando de ser o azarão que é, tornando-se uma pessoa ajuizada e orando por um mundo melhor.

“Jurei que, se um dia eu tivesse uma namorada, eu a trataria direito e nunca seria mau nem safado com ela, nem a magoaria. Nunca. Jurei e tinha toda a confiança do mundo de que manteria a promessa.”
Pág. 43
“Em qual parte dela eu estava mais interessado? Era na aparência ou na realidade interior que eu podia sentir saindo sorrateiramente?”
Pág. 65

Em alguns momentos, Cameron me comoveu profundamente com sua melancolia, mas será terá a chance de provar que não é tão devasso e terrível quanto aparenta ser e aumentará sua autoestima?

Parecia que tudo estava dando certo para todo mundo.
Menos para mim.
Com frequência, eu me pegava entoando a palavra infelicidade, feito a criatura lamentável que era.
Resmungava para mim mesmo.
Choramingava.
Me queixava.
Pág. 163

Este livro é meio autobiográfico e distinto de outros do autor que li (“Eu sou o Mensageiro” e “A Menina que roubava Livros”) que me encantei, mas este me decepcionou por não ter um enredo e um desfecho, mas isso é explicado no decorrer da narrativa onde Cameron relata como foram as coisas em sua vida, durante o último inverno e sobreviveu nesse mundo caótico, rumo ao amadurecimento.

Um fato curioso é que a primeira vez que li o sobrenome da família, pensei que fosse uma história de lobo ou algo do gênero, como no filme “O Garoto do Futuro”, estrelado por Michael J. Fox. Ao pesquisar, vi que estava redondamente enganada.

Esta trilogia foi a primeira obra do autor antes de se consagrar com seus grandes sucessos.

A narrativa é em primeira pessoa sob a perspectiva do protagonista narrando o seu cotidiano familiar e o quanto está descontente com sua vida e consigo mesmo, o que lembrou muito “Eu sou o mensageiro”, mas diferente deste ele era muito bem desenvolvido.

Cam fica divagando entre os catorze capítulos que terminam em sonhos recorrentes, sejam eles doentios, pervertidos e alguns poéticos, o que acaba confundindo a mente do leitor.

Em alguns pontos, vemos que a escrita é profunda, o que me conquistou, e muitos jovens se identificarão com os dramas do protagonista através de belas citações que trazem um fio de esperança aos mais singelos sentimentos.

- Estou torcendo pelo azarão.
- Ei, por que só tem um garoto lutando?
- Ele está lutando contra o mundo.
(...). Ele continua na luta, por mais que caia. Levanta.
Pág. 101

Devido às minhas altas expectativas, acabei saindo frustrada, porque, infelizmente, algumas situações não me convenceram. Por isso, acabei não o apreciando como outros livros do autor que já tive o prazer de ler. Por se tratar de sua primeira obra, achei tudo muito imaturo e precoce. Mas traz uma carga emocional intensa juvenil rumo ao amadurecimento.

Não o recomendo para quem já leu “A menina que roubava livros” e “Eu sou o mensageiro” e acabou cativado pela história. Este não é o melhor trabalho do autor, mas você reconhece seu estilo e nuances na escrita presentes em outras obras. Com isso descobre o quanto Markus Zusak cresceu e amadureceu como escritor.

Série Wolfe Brothers

1. The Underdog (O Azarão)
2. Fighting Ruben Wolfe
3. Getting the Girl

2 comentários:

  1. Oi, Carlinha!

    Puxa, você me desanimou agora! Minha experiência com o Markus começou lá no alto, depois diminuiu consideravelmente. Comecei por 'A Menina que Roubava Livros', que é um dos meus livros favoritos, e depois li 'Eu sou o Mensageiro', que passou longe daquilo tudo que eu esperava. Está certo que 'Eu sou o mensageiro' foi escrito antes que o seu maior sucesso, 'A Menina que Roubava Livros', mas, preciso confessar que, enquanto lia 'Eu sou o mensageiro', senti que era como se fosse um autor completamente diferente narrando a história, não o Markus Zusak!
    Vi que a capa do segundo livro agora pouco no facebook, e, quando entrei aqui, vi sua resenha e corri ler... Pena que decepcionou você. A história parece legal, mas, sei lá, agora não sei se leria... Não quero perder ainda mais o encanto pelo Markus! =(

    Um beijo,
    Inara
    http://www.lerdormircomer.com.br

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