NAS ASAS DA BORBOLETA
ÍVI CAMPOS
Clube de Autores
Este romance independente, com 316 páginas, se passa no final dos anos setenta e começo do século XXI.
[Aviso: Todos sabem que evito spoilers! Coloquei algumas citações que muitos podem achar que tem algo revelador, mas decidi colocar em razão de alguns temas interessantes que o livro aborda, para instigar a curiosidade do leitor, mas garanto que não revelei nada demais para não estragar a surpresa da leitura. Até consultei a autora a respeito desses pormenores e ela aprovou.]
Em 1976, Fátima está grávida de oito meses e, aos dezoito anos, luta para sobreviver trabalhando em casas de família escondendo o fato de seu marido Gilberto, já que trabalhou desde cedo, após o suicídio da mãe, de quem guarda mágoa por não ter enfrentado os dissabores da vida, e fora criada pela tia.
Aos trinta anos, Gilberto era antissociável, machista, ignorante, retrógrado e inútil. Não tinha um emprego fixo, porque era um alcoólatra, o que mais tarde será o grande ressentimento de sua filha, Natália.
Mesmo sendo guerreira, esforçada e linda, Gilberto nunca aceitou o fato de ter uma filha. Ambos agiam como estranhos. Não aguenta mais se sujeitar a ele e não tem coragem de enfrentá-lo, porque naquela época o divórcio estava fora de questão. Por isso queria que sua filha tivesse uma vida diferente da sua.
ÍVI CAMPOS
Clube de Autores
Este romance independente, com 316 páginas, se passa no final dos anos setenta e começo do século XXI.
[Aviso: Todos sabem que evito spoilers! Coloquei algumas citações que muitos podem achar que tem algo revelador, mas decidi colocar em razão de alguns temas interessantes que o livro aborda, para instigar a curiosidade do leitor, mas garanto que não revelei nada demais para não estragar a surpresa da leitura. Até consultei a autora a respeito desses pormenores e ela aprovou.]
Em 1976, Fátima está grávida de oito meses e, aos dezoito anos, luta para sobreviver trabalhando em casas de família escondendo o fato de seu marido Gilberto, já que trabalhou desde cedo, após o suicídio da mãe, de quem guarda mágoa por não ter enfrentado os dissabores da vida, e fora criada pela tia.
Aos trinta anos, Gilberto era antissociável, machista, ignorante, retrógrado e inútil. Não tinha um emprego fixo, porque era um alcoólatra, o que mais tarde será o grande ressentimento de sua filha, Natália.
Mesmo sendo guerreira, esforçada e linda, Gilberto nunca aceitou o fato de ter uma filha. Ambos agiam como estranhos. Não aguenta mais se sujeitar a ele e não tem coragem de enfrentá-lo, porque naquela época o divórcio estava fora de questão. Por isso queria que sua filha tivesse uma vida diferente da sua.
As asas daquela borboleta, bordada com tanto carinho, apenas simbolizavam (...) que a filha haveria de ter uma vida intensa, que ela se deliciaria na vida e alcançaria seus objetivos, ainda que não os alcançasse com facilidade, ela não desistiria de passar pela vida de maneira honrosa.
Pág. 13
Em 2005, Natália é uma fotógrafa bem-sucedida e independente. Apesar da baixa autoestima e do sucesso, seu grande sonho é casar e construir uma família dando a oportunidade que não teve com seus pais.
É grata por tudo que sua mãe fez, mas sente saudade e mágoa da distância que esta impôs por carregar uma tristeza muito grande dentro de si, já que sempre se sentiu incomodada com sua presença, pois nunca deu lhe espaço para entrar no seu mundo. Sua ausência teve efeitos negativos em sua vida, mas só descobrimos o motivo disso no decorrer da leitura.
E o que mais me incomodava nesta distância, nestes limites que ela marcou tão incisivamente entre nós, é que eu nunca tinha coragem para lhe perguntar o porquê daquela atitude. Queria ter voz para lhe dizer que apesar de adulta e independente, eu a queria na minha vida, no meu dia-a-dia. Eu enxergava seu amor, sentia-o realmente, mas nunca compreendi o fato de alguém amar e não querer estar perto. Nunca.
(...), mas a verdade é que minha mãe nunca quisera ficar comigo pra valer. Sentia-se responsável por mim, lutou muito para que nada me faltasse, mas eu era a prova viva do seu fracasso como mulher. Eu era a filha do casamento mal sucedido. Eu era a filha do alcoólatra infeliz que a subjugara como mulher e ser humano. Eu era o peso, ou o castigo por ter se casado com um inútil.
Pág. 75
Nunca se impressionou com nenhum homem, pois sempre se manteve protegida emocionalmente por medo de se apaixonar e não ser correspondida. Aos 29 anos, se casa com Victor, um publicitário romântico, carinhoso e educado por quem se apaixonou perdidamente. Não imaginava que o casamento pudesse ser muito mais do que amor, amizade, cumplicidade e presença.
Alguma coisa seria tão importante dentro de um casamento além do fato que homem e mulher se amavam?
Pág. 59
Com o passar do tempo, o relacionamento fica cada vez mais distante e conturbado por viverem uma mentira que se transportou para outras esferas do seu relacionamento.
Durante toda a minha vida, eu nunca me interessara por sexo. Nunca fui beijada de maneira que desejasse ir para a cama com alguém e até a noite passada, mesmo apaixonada pelo homem com quem me casei e sonhei constituir família, jamais sentia a menor emoção em transar.
Então, um homem, um único homem desperta em mim os instintos mais avassaladores que podem existir dentro de um corpo humano.
Pág. 233
Tenta entender a causa desse problema e seu mundo desmorona.
Sentia-se um fracasso como esposa e mulher. E agora como poderia realizar seu grande sonho? Conseguirá encontrar felicidade, satisfação e a paz que tanto necessita em seu coração e sentimentos?
Em meio a tanto sofrimento, quem sempre esteve do seu lado nos bons e maus momentos foi Henrique, seu melhor amigo de infância, confidente e homossexual que passou por situações pesadas, além de não ser aceito integralmente pela família. Os dois eram inseparáveis, cúmplices e sinceros.
(...) era o típico homossexual que não dava pinta. E pior do que nunca ter reparado, era tê-lo tratado daquela maneira preconceituosa e ignorante. E eu o tratei (...), não porque tivesse me sentindo mal amada, porque uma mulher mal amada é capaz de frias atitudes, mas eu o tratei daquele jeito vergonhoso, porque no fundo eu era preconceituosa.
Pág. 54
É feliz e realizado em sua vida pessoal, além de ser um bem-sucedido dono de uma rede de academias e faz um trabalho social com crianças carentes. Sensível, possuía uma bondade que não fora afetada pelas amarguras da vida, mesmo sendo incompreendido por muitos, enfrentou tudo com caráter, honestidade e verdade.
(...) por muito tempo não acreditou no amor ou na paixão, apenas no entendimento entre duas pessoas que se aceitam e se dispõe em se fazerem felizes com lealdade e carinho, porém a maturidade o ensinou que amor existe sim, mas que o tempo (...) é o responsável por provar esta teoria.
Pág. 166
Compartilhavam uma amizade que era uma via de mão dupla, pois esteve ao seu lado em todos os bons e maus momentos.
Aquele processo todo, só me fez desejar nunca mais me apaixonar e amar outra pessoa. Não conseguia me imaginar passando por aquilo novamente. Comprometi-me comigo mesma a nunca mais abrir meus sentimentos, minha vida, meu eu para qualquer outro amor. Nunca mais.
Pág. 90
Quando Nat está prestes a realizar o sonho de ser mãe, a vida lhe encarrega de dar mais um tropeço e por obra do destino acaba desistindo indo para Portugal. Será que encontrará a felicidade que anseia?
Não consigo conceber alguém que não deseje naturalmente ter alguém sob seu amor e cuidado incondicional. Não consigo entender que alguém assim, ainda que exista, não seja uma pessoa profundamente egoísta e desprovida de grandeza emocional. Pessoas que não querem ter filhos, que decidem isto racionalmente, para mim, estão à margem daquilo que eu penso ser humanidade.
Pág. 77
Só a vida e o destino se encarregariam de lhe mostrar o caminho a seguir, mesmo sendo atrozes. O final foi inesperado e creio que vocês terão sentimentos contraditórios de aceitação ou negação.
Foi algo inusitado, mas, assim como eu fui, garanto que serão surpreendidos com a mudança de comportamento de um personagem que nunca vi em nenhum livro, já que este fugiu de todos os estereótipos que estamos acostumados a ver em alguns romances literários, além de desmistificar e quebrar diversos tabus e temas polêmicos que geram discussões e reflexões.
- Eu não olhei pra você e te desejei. Eu me apaixonei, foi isso, você não consegue entender?
Pág. 219
Achei que a capa ilustrou perfeitamente o enredo, porque essa borboleta traz algo significativo à trama, que foi escrita com clareza e singeleza, mas tudo com uma sutileza que me surpreendeu.
Narrado em primeira pessoa, o enredo foi bem construído e desenvolvido através de personagens cativantes e fortes que, apesar de serem bem-sucedidos, anseiam pela simplicidade de amar e serem correspondidos.
(...). Não nos apaixonamos por homens ou mulheres. A gente se apaixona pela alma, por aquilo que a pessoa é, independente do corpo que a hospeda. São as almas que se apaixonam, não é a matéria... São as almas que se descobrem, se encontram, se comprometem a se fazerem felizes e se completam. Homem e mulher cumprem apenas o protocolo para a manutenção da espécie e isso não tem nada a ver com amor. (...).
Pág. 243
A escrita é envolvente e a narrativa me fisgou desde o prólogo, onde visualizei cada momento dramático, tenso, comovente e divertido e, ao mesmo tempo, pungente, porque é um romance para as mulheres com uma carga emocional dramática e intensa que aborda vários temas polêmicos em sua complexidade de forma sutil como um tapa com luva de pelica que é um choque na nossa atual realidade.
Apesar de o romance ser bem reflexivo, alguns podem achar monótono, mas eu adorei, já que algumas mensagens e diálogos foram divertidos e tocantes! É como se a autora estivesse desabafando conosco acerca da família, casamento, maternidade, amizade e sobre muitas questões humanas inerentes. Alguns leitores vão se identificar com os dramas dos personagens.
Para quem ainda não sabe, ela se inspirou no Ricky Martin para compor o Henrique e em todo o seu acervo musical para escrever a obra.
A boa notícia é que está com um novo projeto sobre o mesmo romance sob a perspectiva do Henrique, mas sem data definida para lançamento. Segundo ela, será uma abordagem diferente, menos filosófico e mais denso. Amarrará muitas questões que ficaram pendentes sobre ele neste volume. Serão histórias independentes, que complementarão uma à outra.
A única exceção é que faltou uma revisão mais minuciosa, o que incomodará qualquer leitor exigente, porque, além disso, a diagramação também deixou a desejar, mas a escritora já está ciente disto. É uma pena, porque é uma história que merece ser lida, compartilhada e refletida por todos nós, porque não existe verdade absoluta nesta existência.
Quero me desculpar pela extensão da minha resenha, mas vocês sabem que quando aprecio um livro vou longe e, com este não foi diferente, o que foi muito gratificante, já que uma das grandes lições mostradas nele é:
“O amor não tem cor, não tem raça, não tem nação, não tem religião. O amor atravessa as fronteiras e quebra preconceitos.”
Pág. 196
Saiba mais sobre a autora e sua obra:
P.S.: Muitos leitores estranharão o fato de eu ter escrito o nome da autora com acento agudo, já que não consta no livro. Como recebi autografado desta maneira, isto foi confirmado.
Oi, Carlinha!
ResponderExcluirSempre me emociono lendo as suas resenhas! Dá para ver nitidamente o quanto você gostou do livro, e, a cada novo trechinho que você citou, minha curiosidade aumentava! Não conhecia o livro, mas agora fiquei com muita vontade de ler! Parece tratar de diversos temas tabus, e com muita sensibilidade, dá para ver pelos trechinhos do livro!
Amei sua resenha! :)
Um beijo,
Inara
http://www.lerdormircomer.com.br/
Oi, Inara.
ExcluirEste livro me emocionou profundamente em vários momentos, o que foi uma grata surpresa.
É uma história que merece ser lida e refletida.
Você vai gostar.
Beijos.
Desde que falamos em off sobre esse livro que tive vontade de ler, acho a capa linda e o mote envolvente, mas o que mais me fez apaixonar, além da forma como vcoê escreve a resenha, são as citações.
ResponderExcluirDá para sentir a emoção.
Quero muito ler esse livro!
Oi, Leninha.
ExcluirPelo que te conheço e, como temos gostos literários muito parecidos, você vai adorar, porque é um dramalhão daqueles que você ama. :)
É comovente e desmistifica diversos tabus além do desfecho inesperado. Você vai se surpreender.
Beijos.
Oi, Carlinha.
ResponderExcluirAdorei sua resenha. Você já tinha comentado comigo e o livro parece mesmo ser instigante. Ainda mais pelo tema! Bem que ela poderia encontrar uma editora que bancasse essa temática ousada e desse ao texto o tratamento devido.
Fiquei com vontade de ler mesmo assim. Gostei das citações, são muito poéticas...
Beijos!
Oi, Lilian.
ExcluirO enredo é instigante. Fui surpreendida, porque nunca li algo assim, o que foi inusitado.
Concordo plenamente com você que este livro merecia uma editora que investisse nessa temática, porque tem grande potencial e o texto merece um tratamento melhor.
Foi difícil escolher as citações. Das 17 que tinha digitado, só deixei essas. Tem cada uma linda e o texto além de reflexivo é bem poético. Acho que por isso, adorei!
Você iria gostar.
Beijos.
Carla!
ResponderExcluirPor sua resenha, bem detalhada por sinal, o livro parece um drama intenso e emocionante, que vai cativando o leitor a cada página, prendendo o leitor e tornando a leitura instigante.
Fiquei bem curiosa em pode lê-lo.
cheirinhos
Rudy
Oi, Rudynalva.
ExcluirVocê descreveu perfeitamente o livro com suas palavras.
É uma trama que vale a pena ser conferida.
Beijos.
Quero muito ler esse livro, acho que vou me identificar com a personagem em muitos pontos. e os assuntos são interessantíssimos, adorei as passagens que citastes.
ResponderExcluirOi, Roberta.
ExcluirA temática é muito interessante por abordar temas tão comuns da nossa atualidade. Muitos leitores vão se identificar com os dramas dos personagens.
Os principais temas estão presentes nas citações que mencionei. É bem instigante a história.
Você vai gostar.
Beijos.
Parabéns pela sua resenha que está muito boa. Estou tentando ler esse livro, mas tenho alguns já a minha espera e por isso ele ficará para o próximo ano.
ResponderExcluirOi, Maristela.
ExcluirObrigada pelo carinho.
Quando você lê-lo não largará até que conclua a leitura. É envolvente desde o princípio. Traz temáticas ótimas além de momentos profundamente tocantes. Espero que goste.
Beijos.
Oi, adoro tuas resenhas, esse livo é bem interessante.
ResponderExcluirOi, Sandy.
ExcluirObrigada. :)
Este livro me surpreendeu e me emocionou demais.
Vale a pena conferir.
Beijos.
Oi!
ResponderExcluirColoquei na lista, parece ser muito bom e fiquei com muita vontade de ler!
Os autores brasileiros estão de parabéns, a cada dia que passa se superam mais e mais e eu estou indo a falência por conta disso rsrsrsrs
Muito boa a sua resenha e me convenceu de que vale a pena ter este livro em minha estante e na minha vida!
Obrigada,
Pati
Oi, Pati.
ExcluirO enredo é ótimo, bem tocante e envolvente. Apesar do problema de revisão que mencionei acima e que me incomodou um pouco, vale a pena conhecer.
Também estou muito feliz com alguns dos nossos autores que estão me surpreendendo com ótimas histórias, que não deixam a desejar em relação a muitos autores estrangeiros.
Com tantos livros bons, vamos falir mesmo. rsrsrs.
Beijos.
Não conhecia o livro e nem a autora, mas é impossível não querer ler esse livro depois dessa resenha maravilhosa. Adoro romance, drama e temas do cotidiano. Já está na minha lista.
ResponderExcluirQue história incrível!! Adoro romances com intrigas!
ResponderExcluirQuero ler o livro!!
Adoro esse tipo de livro. Parabéns pela resenha, muito bem escrita!
De tantas resenhas que li sobre esse livro, essa me pareceu a mais completa. Estou indo viajar e levarei nas asas da borboleta como companhia.
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