Os Ladrões de Cisne - Elizabeth Kostova

OS LADRÕES DE CISNE
ELIZABETH KOSTOVA
Intrínseca

Primeiramente, quero dizer que este é o primeiro livro da autora que tive o prazer de conferir através da minha parceria com a Editora Intrínseca. Para quem ainda não sabe, ele foi lançado no ano passado pela Editora Suma de Letras, intitulado como “Os Ladrões de Cisnes”.

Este livro, que no original em inglês intitula-se The Swan Thieves, com 536 páginas, foi relançado
dia 02 de maio de 2011, pela Editora Intrínseca, é um romance sobre arte e obsessão em um mistério que ultrapassa séculos e continentes através de uma história de amor humano e artístico pela pintura, mostrando o universo de Robert Oliver entremeado de paixão e criatividade, repleto de segredos, além da loucura que acometeu este gênio da arte.

O dr. John Garcia encaminha para o seu colega, também psiquiatra, dr. Andrew Marlow um dos seus pacientes: Robert Oliver, com 43 anos de idade, pintor e professor americano que atacou brutalmente com uma navalha o quadro “Leda”, um mito grego, que retrata o corpo nu de uma mulher subjugada por Zeus, que apresenta-se a ela na forma de um grande cisne branco, na National Gallery of Art, em Washington.

- (...). Estava muito nervoso, julgava estar numa missão heroica, e depois desmoronou na delegacia, disse que não dormia havia dias, até chorou um pouco. Trouxeram-no para a emergência psiquiátrica (...).

Pág. 12

Em estado depressivo, demonstra raiva e períodos de agitação chegando ao ponto de não deixar ninguém tocar em seu caderno de desenhos e em um maço de cartas de amor antigas datadas de um século atrás, que mostra um enredo repleto de paixões secretas e traição, através da história de Béatrice de Clerval, uma pintora muito talentosa que largara a arte antes dos 30 anos, numa época em que as mulheres eram estimuladas a se concentrar exclusivamente na vida familiar; Yves, seu marido; e Olivier Vignot, tio deste.

- (...). A impressão que dá é de alguém enfurecido. Como se fosse um urso mantido numa jaula. Um urso calado. (...). Ele precisa ficar em algum lugar por um tempo, ter alguém que entenda o que realmente está se passando, (...).

Pág. 14

O que levaria um artista célebre e carismático a destruir algo que ele valorizaria acima de tudo? Confinado no quarto de um hospital psiquiátrico, Oliver guarda um silêncio obstinado, onde desenha repetidamente a figura misteriosa de uma mulher do período vitoriano, tendo oferecido apenas uma explicação lacônica antes de parar de falar: “Fiz isso por ela.” Mas quem seria ela?

O psiquiatra Andrew Marlow, filho de pastores e pintor nas horas vagas, foi uma criança ranzinza e malcomportada que sempre decepcionava-se, porque achava que a vida não era o que prometera ser. Sempre sonhou em ser artista, mas acabou optando pela medicina. Foi uma decisão dolorosa, porque o artista em si rebelava-se contra a carreira escolhida. Seus pais aceitaram a sua opção pela especialização psiquiátrica.

(...) minha mãe observou calmamente que todo o mundo precisa ter alguém com quem falar, o que era sua maneira de associar com bastante precisão seu sacerdócio ao meu, e meu pai comentou que há muitas formas de expulsar nossos demônios.

Pág. 19

Seu pai era um pastor progressista que orgulhava-se dele por ter um interesse especial por psicologia e criatividade, e pelos transtornos que afligem muitas pessoas criativas ou brilhantes. Apesar de morar sozinho, é incomumente um cientista e artista, compreende essas pessoas, conservando sua sanidade com eficiência. Leva uma vida de preceitos em um mundo ordenado e meticuloso, onde compensa sua solidão com seu trabalho e seu hobbie. Mas esta vida está prestes a virar de cabeça para baixo por causa de seu paciente.

Apesar de orgulhar-se de sua capacidade de fazer até uma pedra falar, não consegue diálogo algum com Oliver que, em uma época de sua vida era um homem extremamente elegante e agora está completamente desleixado. Já teve um transtorno recorrente de humor e uma experiência com lítio há um ano atrás e, apesar de levar uma vida normal como professor e artista, era um paciente desmotivado e nunca fizera um tratamento a longo prazo.

Movido, a princípio pela curiosidade profissional, e depois por uma determinação que perturba a sua vida pacata, o psiquiatra embarca numa perseguição pouco convencional, porque Robert está depressivo, agitado e não interage com ninguém, porque tornou-se alguém atormentado, o que acabou desencadeando o seu colapso nervoso. Parecia calmo boa parte do tempo, mas tinha períodos de raiva e agitação silenciosa, onde ficava completamente obcecado por uma mulher que retrata nos seus quadros. Marlow quer deixá-lo em observação até estar seguro de que esteja fora de perigo e seja capaz de levar uma vida normal.

Desesperado por compreender o segredo que atormenta Oliver e, em busca das respostas que seu novo, intrigante e instável paciente se recusa a dar, ele investiga o passado por meio das histórias de vida das mulheres que ele deixou para trás, o que acaba confrontando sua ética profissional, deixando-o irado pela autossabotagem de Oliver em recusar-se a falar, que está deixando-o preocupado.

(...). Por que uma pessoa optaria por se sacrificar ainda mais quando a química do seu próprio cérebro já a prejudicava o suficiente? (...). Ele já tivera dois filhinhos e uma mulher de voz macia. Continuava a ser um homem de olhar apurado e dedos habilidosos, uma destreza com o pincel que me deixava impressionado. Por que ele não falava comigo?

Pág. 54

Uma das mulheres é Kate, sua esposa, que conheceu-o quando tinha 24 anos e era assistente editorial de uma revista médica. Seus dias ao lado do marido parecia perfeito e emocionante. Apesar de também ser pintora, ela nunca teve o luxo de frequentar uma escola de artes, enquanto ele sim. Ela achava que Robert era meio malandro, que enganava as pessoas sem querer, mas isso era uma compensação da vida pelo que falta nele, porque sempre conseguiu as coisas com muita sorte. Um dia, Kate acordou e pensou: "Quero me casar com Robert e ter uma aliança no dedo e um filho, (...) e a vida será melhor do que jamais foi". Já casada, mãe e feliz, Kate descobre nas coisas do marido um esboço de um rosto feminino. Sempre teve certeza da dedicação de Robert, tanto por ele não prestar atenção ao que o cercava como por ele ser intrínsecamente responsável, mas ao ver aquele desenho feito com amor, sentiu-se diminuída e degradada pelo monstro aterrador do ciúme que instalou-se em seu âmago.

Ele era meu marido, a pessoa com quem eu partilhava minha casa e minha alma, o pai da plantinha que crescia no meu colo confuso, o amante que me fizera adorar seu corpo sem inibição após meus anos de relativa solidão, aquele por quem eu abandonara o meu eu antigo. Quem era ela, essa maria-ninguém? (...).

Pág. 117
As pessoas cujos casamentos não desmoronaram ou cujos cônjuges morrem em vez de saírem de casa não sabem que os casamentos findos raramente têm um fim único. Os casamentos são como certos livros, uma história em que você vira a última página e acha que acabou, e depois há um epílogo, e depois disso, você está propenso a continuar se perguntando sobre os personagens ou imaginando que a vida deles continua sem você, caro leitor. Até esquecer a maior parte desse livro, depois de já tê-lo fechado, você fica intrigado querendo saber o que aconteceu com os personagens.

Pág. 199

Apesar de ser muito amado, Robert nunca conseguiu amar ninguém, e tornou-se solitário pelo fato de ser uma pessoa imprevisível. Sempre recusou-se a falar sobre os seus sentimentos ou admitir os seus erros. Por isso, seu estado deteriorou, provocando alucinações que ele começou a achar que via uma mulher morta como se estivesse viva.

A outra mulher é Mary, uma pintora que também leciona numa universidade local, que conheceu Robert quando este abandonou a família.

À medida que cada uma dessas mulheres pinta um quadro de amor, traição e obsessão artística, Marlow fica mais intrigado com as motivações, o comportamento e a mente de um gênio perturbado. Ao juntar os pedaços de uma vida desfeita, o psiquiatra encontra possibilidades surpreendentes, como também a sua própria felicidade.

“Madame, vejo que seu coração está partido. Permita-me consertá-lo para a senhora.”

Pág. 316

Narrado em primeira pessoa pelos personagens Marlow, Kate e Mary, entremeadas pelas cartas de Béatrice, com riqueza de detalhes e belamente arquitetado, onde o enredo sob a visão diferente de cada personagem, transporta-nos de cidades americanas contemporâneas à velha costa da Normandia, das galerias e salões de arte parisienses ao litoral mexicano, em trajetórias que percorrem desde o amor da juventude até o último amor.

Durante as ivestigações, dr. Marlow pergunta-se: “Será que a misteriosa mulher dos quadros, as cartas seculares, o ataque à galeria de arte têm alguma relação com o mistério que sonda o enigmático paciente Robert Oliver?”

Sei que no decorrer da leitura me questionei da mesma forma e, assim como o psiquiatra, fui surpreendida!

Concluindo, em diversos momentos, no decorrer da leitura, fui arrebatada várias vezes, mas acabei com as minhas expectativas frustradas devido a alguns pontos desfavoráveis como a narração lenta e detalhista que, muitas vezes, achei desnecessária, porque ficava cansativa e monótona. Mas, apesar disso, apreciei o enredo, porque sempre gostei de histórias misteriosas, já que isso instiga-me cada vez mais a desvendar o seu rumo e, melhor ainda, com personagens complexos, perturbadores através de seus dilemas pessoais e amorosos, mostrando-nos uma trama intensa com suas instabilidades psíquicas que gera muitas reflexões.

Adorei a forma como a autora descreveu as obras de arte. A cada descrição, parecia saltar aos meus olhos, dando um vislumbre de como seria esse quadro exposto em uma galeria. Foi tão bom viajar nesse sentido, porque minha imaginação foi longe, já que sempre fui fascinada por desenhos e algumas obras de arte, em especial a Monalisa.

Apesar de sempre desvendar os mistérios em muitos livros do gênero, este foi-me impossível elucidar, já que o final foi surpreendente, apesar de ficar com a sensação de que ficou faltando algo, que devia ter sido mais elaborado.

“Os Ladrões de Cisne” é uma leitura complexa, onde temos que concentrar-nos na história, porque senão perdemos o fio da meada ou deixamos algo passar despercebido. Sempre gostei muito desse tipo de leitura.

Abaixo deixo um trechinho onde a autora fala sobre o livro:

“Sempre quis escrever sobre um pintor. Sou fascinada por pintura e por aqueles que passam a vida expressando o mundo ao colocar cores numa tela. Os ladrões de cisne é um livro sobre obsessões: pelas pessoas, pela arte e pela forma como a arte pode nos transformar. Sobre o primeiro e o último amor de uma vida. E, acima de tudo, sobre psicologia e criação artística, e os motivos que fazem com que uma paixão signifique tanto a ponto de alguém querer fazer praticamente tudo por ela.”

Elizabeth Kostova

Abaixo uma frase que define o livro em poucas palavras:

“Uma história sedutora sobre as obsessões, as perdas e o poder de manter a esperança.”

San Francisco Chronicle

Recomendo a todos que curtem esse tipo de leitura.

8 comentários:

  1. Oi Carla!
    Preciso ler esse livro urgente! É aminha cara. rsrs
    Bjs

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  2. O livro parece mesmo maravilhoso! Só pelo tamanho da resenha e seu entusiasmo... kkkkk
    Acredita que não conhecia?
    Mas valeu pela dica! Anotada!
    Bjus,
    Náh

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  3. Oi, Carlinha!

    Adorei a resenha! Não conhecia o titulo, mas você me deixou curiosa com a história, kkkkk

    E a capa?? É linda!

    Bjs

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  4. Pergunta que não quer calar... como esse livro saiu por duas editoras? Uns com tantos e outros em nenhum! rs

    Menina, eu ando deixando livro muito profundo em pausa. Tô numa fase mais leve... quero livros para dar risadinhas e gargalhadas e nada que me faça ficar intimista, pensativa e/ou depressiva...
    Sério, quero é gargalhadas...
    Quando a fase ligth melhorar quem sabe cato esse com a Intrínseca????

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  5. Parece bom mesmo, vou anotar a dica. Bjs, Rose:D

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  6. Ei Carla,

    Eu li o outro livro da autora O historiador e gostei muito, estou ansiosa para ler este acho que vou gostar... está na fila mas ai chegou mais um monte e já viu ne rsrsrs.

    bjoo

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  7. Adorei!!! Gosto muito de livros policiais e também de livros descritivos =D Nunca li nada sobre roubo de obras de arte - essa história parece excelente ^^

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  8. A Resenha empolgou mesmo a gente Carla!
    Como sempre uma visão clara do livro, dá vontade de ler só pela resenha! kkkk.
    Até fico com medo de ler as suas resenhas e cai no vicio de comprar mais um livro (estou fazendo tratamento de choque pra me conter) kkkk.
    Legal você ter dito que é um detalhista demais, tem livros que ''pecam'' por isso mesmo, e muitoas vezes tornam o livro um tanto maçante sem necessidade, só pra ''encher'' linguiça mesmo! kkkk

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