Giane: Vida, arte e luta - Guilherme Fiuza

GIANE: Vida, arte e luta
GUILHERME FIUZA
Primeira Pessoa/Sextante


Esta biografia que traz relatos acerca da trajetória de Reynaldo Gianecchini – sua infância, família, amores, amigos, anseios, frustrações, desilusões, carreira - me surpreendeu em diversos momentos por mostrar um lado dele que desconhecia e ver o quanto foi árdua sua batalha contra a doença. Além disso, há várias fotos ilustrando todas as etapas de sua vida.

Teve uma infância feliz em Birigui, no interior de São Paulo, ao lado da família de classe média cercado pelo zelo dos pais - mesmo tendo um pai distante por conta do temperamento e da falta de tempo - e das irmãs.


Por ser do interior, tinha raízes fortes, valores férreos e espírito livre. Um dia resolveu se rebelar contra todos por ser bonzinho, pois isso estava prejudicando-o. Era doce sob a fachada de encrenqueiro e sempre buscava a lógica nas suas frustrações.

Formou-se em Direito com o dinheiro que ganhava como modelo e se sustentou sozinho. Sempre foi disciplinado e obstinado, valente e sincero.

Desde pequeno seu grande sonho era desbravar o mundo e isso se concretizou com a carreira internacional de modelo, que veio por acaso, sempre à custa de muitos obstáculos, sofrimentos e superações, porque tudo sempre foi difícil. Se sentiu vitorioso por sair do país.

Murphy sempre interferiu em muitas reviravoltas do destino impedindo-o de se consagrar nessa carreira, mas daí veio a se apaixonar por Gabi, que admirava quando era pequeno e assistia ao programa TV Mulher. Os dois tinham uma relação de afinidade e simplicidade que derrubou qualquer protocolo.


O pequeno Giane estranhava certas coisas comuns ao seu universo interiorano, como a mãe vigiar os namoricos da irmã mais velha na sala. De repente, na tela à sua frente, surgiu uma mulher magnética, (...) e umas ideias diferentes – que faziam com que se sentisse menos estranho no mundo. Passou a se encontrar todas as manhãs com a jornalista Marília Gabriela, que apresentava o tal programa.
Pág. 19

Infelizmente, voltar ao Brasil contrariava sua filosofia e seu destino que sempre conspirava contra.


Desenvolvera uma crítica severa ao universo dos valores materiais. Via um mundo de futilidades à sua volta, desprezava o exibicionismo e a busca do prazer fácil. Achava que as pessoas tinham medo de olhar para dentro de si.
Pág. 120

Entre o choque e a desilusão, mal sabia que o destino lhe abriria as portas para o grande sonho de ser ator e que, nas palavras do próprio autor deste livro, seria fuzilado pela mídia.


Gabi o libertara de sua bolha espiritualista. O encorajara a virar ator. Fora mentora e protetora do seu amadurecimento como artista e como homem.
Pág. 198

Aos 26 anos, abandonou tudo no auge da carreira de modelo para atuar. A partir daí, sua fama sacudiu Birigui e sua família não teve mais sossego.

Entre comerciais, modelo e ator (Gostei de saber e fiquei chocada com alguns fatos relacionados aos bastidores das novelas  - Desejo, Por amor, Laços de família, Passione, Da cor do pecado, Belíssima -
minisséries e peças teatrais), ele mostrou ser uma pessoa de beleza exterior e interior surpreendetes.

(...) a enxergar nele algo que jamais vira em outro ator: um herói-menino, uma mistura exata de beleza, sinceridade e doçura, como não havia na praça:
- Nunca vi isso. Ninguém é como o Giane.
Pág. 53

Sempre foi positivo e atuante, intuitivo e determinado. Otimista, tinha a capacidade de antever as coisas. Mais uma vez, a vida lhe encarregaria de lhe pregar uma peça: um linfoma raro e grave - o não-Hodgkin T angioimunoblástico.

- Eu sou saudável, alegre, de bem com a vida. Não tenho isso, não, mãe, não é possível.
Pág. 23

Completamente exposto pela mídia, se vê lutando contra o câncer e só um transplante o salvaria, pois tinha 30% de chance de sobreviver. Mesmo à beira da morte não perdeu as esperanças e muito menos a fé, nem nos momentos em que estava quase desistindo de lutar.


No que olhou pela primeira vez a cara da morte, a sua morte, bem de frente, foi tomado por uma calma profunda. Por um momento perdeu de vista os médicos, as enfermeiras, a empresária, a mãe, os parceiros profissionais e afetivos, a legião de fãs. Enxergou com clareza o verdadeiro lugar de todo mortal em sua condição mais pura: a solidão.

E se sentiu forte nesse lugar. Se deu conta de que fora exatamente dali que, ainda menino, vislumbrara o seu caminho – um caminho que o diferenciava de todos os membros de sua família, de todos os exemplos que havia à sua volta no interior, de tudo o que ouvia na escola. A sós consigo, já tinha enfrentado grandes encruzilhadas.

Pág. 25

Para piorar ainda mais, sua família ainda tinha de lidar com o câncer de seu pai, além do Alzheimer da sua avó.


Giane estava desenterrando um tesouro. Resgatava o pai e o interior ao mesmo tempo. O aconchego das pessoas simples e calorosas, que entram sem bater, que afagam por afagar, que se revelam inteiras num olhar – aquilo não existia no Rio de Janeiro. Nem em São Paulo, Paris ou Nova York.
Pág. 235

Esta parte referente à doença foi um dos momentos mais tristes e, ao mesmo tempo, tensos e me tocou profundamente, porque mesmo diante do suplício da dor e do sofrimento, era sereno e corajoso.

A narrativa do livro é fluída, cuja leitura é despretensiosa e envolvente desde o princípio, onde o autor relata várias etapas da vida do ator com sensibilidade e humor. Cheguei a me emocionar em vários momentos profundamente tocantes.

Essa biografia nos emociona pelas descrições dos sentimentos e nos mostra que jamais devemos perder a nossa essência, a nossa fé e a nossa esperança diante das adversidades. 


Além de tudo, devemos amar e valorizar nossa vida plenamente, porque não somos nada sem uma base familiar, sem nossos valores e nossas crenças.

Recomendo a todos, porque Giane é como todos nós - com qualidades e imperfeições inerentes à nossa condição humana -, sempre perseverantes, sem jamais desistirmos dos nossos objetivos até conseguirmos o que almejamos, mesmo que para isso tivermos que superar muitos desafios pela frente.


Devemos acreditar e perseverar sempre!


3 comentários:

  1. Essa é uma biografia que quero muito ler, adoro o autor e preciso conhecer mais da pessoa.
    Ótima resenha amiga!

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    1. Oi, Leninha.

      Eu já gostava do Giane e lendo esse livro passei a admirá-lo ainda mais por sua essência como pessoa.

      Você que é apaixonada por novelas, vai ficar chocada com algumas revelações acerca dos bastidores das gravações, especialmente referente a uma das protagonistas de Passione.

      Beijos.

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  2. Minha mãe me deu esse livro e de início fiquei meio receosa de ler. Mas depois de terminar a leitura me peguei surpreendida pela honestidade da biografia, que o mostra como uma pessoa normal e batalhadora, que teve seus altos e baixos assim como qualquer um. Adorei a resenha. Bjs

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