Os Náufragos - Elin Hilderbrand

OS NÁUFRAGOS
ELIN HILDERBRAND
Bertrand Brasil


Este romance contemporâneo (The Castaways, 448p.) é o primeiro da autora que leio, que me surpreendeu em alguns aspectos, cujo enredo ambientado na ilha de Nantucket — onde seus moradores bisbilhotam a vida alheia — foca na perspectiva de quatro casais — os MacAvoy, os Kapenash, os Drake e os Wheeler.

O título metaforicamente refere-se pelo fato de estarem “sozinhos” em uma ilha deserta, apesar do forte elo que os une, porque desde que se encontraram tiveram uns aos outros. Por isso, esse grupo de amigos se batizaram de “Os Náufragos”.

(Naquele momento, não sabiam o que estava por vir. (...). Não sabiam que perderiam bebês. Não sabiam da variedade de remédios voltados para disfunções pós-traumáticas. Não sabiam que seus casamentos desmoronariam e, então, se salvariam. Não sabiam dos casos nem das reorganizações amorosas. Não sabiam da existência de uma garota (...) nem da tempestade de merdas que ela provocaria. Não sabiam que deixariam e seriam deixados. Não sabiam que morreriam.)
Pág. 71

Aparentemente, Greg e Tess MacAvoy levavam uma vida feliz, pois eram um casal muito querido e respeitado na comunidade, mas após cometer uma suposta transgressão com April — uma aluna do ensino médio —, a relação ficou conturbada, gerando muita raiva, ressentimento, desconfiança e confusão.

— Ele está morto e quero demonstrar meu respeito! Acha que não sei que minha presença é “inapropriada”? Acha que não senti os milhares de olhares em mim? É claro que senti!
(...)
— Estive com Greg na noite da véspera da morte dele.
Págs. 110-111

Dividida entre seu grande segredo, o amor pelo cônjuge e pelos filhos gêmeos, de sete anos, acaba reatando e decidindo comemorar os doze anos de união velejando em um vinhedo, quando são inexplicavelmente encontrados mortos por afogamento.

(...) Tess. Ela estava inchada, tinha a pele cor de massa de vidraceiro e uma mecha de seus cabelos havia sido arrancadas na parte da frente. Morta, ela parecia uma criança. (...). (...) Greg. Este estava com um corte na testa, um talho que devia ter jorrado sangue como um gêiser, mas, por causa da água, parecia um vergão enrugado. Também tinha o nariz fora do lugar.
Págs. 38-39

Além de professora, Tess era perseverante, calorosa, disposta e ingênua. Mesmo sendo venerada por todos. Professor de música, Greg era carismático, talentoso e perseguido por todas as mulheres, mas também um fraco. No decorrer da leitura, veremos se ele era realmente um homem honrado ou um canalha?

“Estou com medo de você não receber isso direito.”
“Você vai contar a ele? Vai contar a ele que me ama?”
“Você tem que pensar nas crianças. Elas precisam de um desfecho.”
Pág. 209

O que realmente aconteceu? Deixaram testamento? Nomearam tutores para as crianças dóceis e equilibradas, mas que estão arrasados e infelizes?

Todavia, o delegado detestava pensar que Tess estivesse sob o efeito de alguma droga. Greg a teria drogado? Teria levado a esposa para velejar porque queria machucá-la?
Pág. 189
Será que Greg estava naquela situação em que os homens se encontravam quando precisavam de motivação? Sua mulher doce e bela não bastava? Seus dois filhos saudáveis não bastavam? Ele precisava de mais, precisava de alguém que o venerasse, de alguém que o considerasse um herói?
Pág. 350

É o que se questiona seu seleto grupo de amigos, que ficam devastadoramente arrasados, e ao dar prosseguimento no caso, os mistérios vão sendo desvendados à polícia e uma trama de segredos surpreendentes vem à tona colocando a relação dos casais ainda mais fragilizados em risco:

Edward e Andrea Kapenash:
São perspicazes e casados há 18 anos. Ela era durona e agressiva, mas também capaz de doçura e gentileza. Prima em primeiro grau e amiga íntima de Tess, por quem tinha um grande carinho, já que a considera como uma irmã e uma filha. Abandonou o trabalho de salva-vidas para cuidar dos filhos, já adolescentes. O delegado Ed era honrado, sério e estável. Enquanto era um marido dedicado e fiel, sua esposa era a dona da razão.

Jeffrey e Delilah Drake: Fazendeiro sério e determinado, que leva uma vida estável ao lado da esposa e dos filhos, de 8 e 6 anos. Era um marido rígido, embora julgasse as pessoas, inspirava segurança. Delilah tinha um ótimo senso de humor e de liberdade, gostava de ser independente e trabalhava num restaurante. Egoísta e egocêntrica, não tinha senso de decoro e sempre o constrangia por seu comportamento, enquanto reclamava que este agia como se fosse seu pai, porque odiava confrontos. O casal era escravo dos seus horários e a relação foi perdendo o romantismo e estão em crise.

Addison e Phoebe Wheeler:
Gentil e experiente, é um magnata brilhante do mercado imobiliário. Divorciado, tem uma filha adolescente que mora com a mãe. Apesar do seu charme, suportou fortemente os dramas da atual esposa, que até hoje não superou a morte do irmão gêmeo no atentado de 11 de Setembro. Phoebe era inteligente, excêntrica e confiante, mas esqueceu de ser extrovertida, porque há seis anos vive emocionalmente ausente com a ajuda de remédios. Ela gerenciava uma empresa de consultoria, administrava duas instituições de caridade e eventos. Eles formavam um casal bem-sucedido, misterioso e incompreendido. 

Será que Phoebe sabia? Ela teria descoberto? Isso era impossível, porque ninguém sabia, e não havia uma provinha sequer que os entregasse.
Pág. 13

Cada vez mais devastados pelo processo do luto, esses amigos tentam entender até onde vai o limite entre a amizade e o perdão? Será que o amor deles será forte para suportar e superar essa tragédia que abalou suas vidas?

Duas pessoas amaram perdidamente, mas não viveram esse amor. Será que estão envolvidos na morte dos MacAvoy? Quem será?

Em meio a uma sucessão de eventos, ninguém sabe o que aconteceu, mas o delegado está de olho em duas evidências — cinco telefonemas para Tess naquela fatídica manhã e a heroína no seu sangue — que o levam cada vez mais perto da verdade.

A imagem que vemos da capa não condiz ao vê-la pessoalmente, porque tem um toque aveludado e o nome da autora em alto relevo. Achei que foi uma das mais lindas que saiu este ano, porque refletiu exatamente a essência do enredo.

Ao lê-lo, me lembrei daqueles filmes em que um grupo de amigos se reencontram ou se juntam, onde rola todo tipo de drama e diversão, sabe?

Demorei um pouco a me familiarizar com os personagens, porque são muitos pontos de vista, o que a princípio me deixou confusa.
Tentando me situar, tinha horas que me perdia um pouco, mas depois engrenei na leitura que foi envolvente com alguns momentos comoventes.

Aos poucos fui percebendo que cada personagem nos dava uma pista do que realmente aconteceu, o que ia juntando as peças que faltavam ao quebra-cabeça.

Com seu jeitinho peculiar de ser, cada personagem me trouxe uma complexidade de emoções. Alguns eram cativantes, enquanto outros desprezíveis devido às suas ações irrefletidas e aos seus excessos — álcool, drogas, infidelidade, etc. (Não me estenderei muito, senão soltarei spoiler e não quero estragar a surpresa do leitor).

Apesar de ter apreciado a narrativa meio lenta e descritiva do livro — alguns podem achar cansativo ou entediante em alguns momentos —, como grande fã do gênero suspense, eu esperava que alguns pontos tivessem sido mais desenvolvidos, porque esperava aquele clímax acerca da revelação do mistério, o que me deixou um pouco desapontada, porque desvendei rapidamente o ocorrido, já que isso se revelou em determinado ponto da trama.

Nem por esse pequeno detalhe, a história desmereceu, muito pelo contrário. Apreciei por ser um livro que mostra todas as falhas do ser humano — mesmo não sendo verossímil — abordando questões tão atuais, que são ótimas para reflexões.

Outra questão é sobre o luto. Após uma perda, seja de um familiar, parente, amigo ou um conhecido, como devemos encará-lo e lidar com nossa dor e seguirmos nossas vidas em frente? No caso dos personagens,
em meio ao processo do luto, chegaram ao fundo do poço completamente transtornados de pesar, negação, mágoa, arrependimento e culpa. E isso é muito crível!

Por outro lado, este romance contemporâneo e, às vezes, encantadoramente comovente nos mostra que o destino — conspirando contra ou a nosso favor —, sempre está entrelaçando nossas vidas com as pessoas que nos rodeiam.

Um livro que fala sobre amor, confiança, perda, fé, lealdade, traição e todos os conflitos e sentimentos inerentes às complexidades dos relacionamentos.


2 comentários:

  1. Uau, Carla, essa capa é maravilhosa *-* E se ao vivo é ainda melhor (com um toque aveludado e o título em alto relevo) eu nem consigo imaginá-la, porque já me apaixonei pela versão web dela.

    A história parece ser bastante interessante e fiquei muito a fim de ler o livro. Eu ainda não havia ouvido falar do livro, agora quero muito lê-lo.

    Beijos,
    Nanie

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    1. É realmente uma das mais lindas que já vi, Nanie. Me encantei por ela.
      A trama te pega de jeito desde o princípio e gostei de ver a dualidade do ser humano.
      Você vai gostar.
      Beijos.

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