Todo Dia - David Levithan

TODO DIA
DAVID LEVITHAN
Galera

Quem nunca pensou um dia viver outra vida e descobrir tudo o que aquela ser humano sente sob sua perspectiva?! Isto é o que retrata este romance (Every Day, 280p., Galera Record) do gênero Young Adult e o primeiro do autor que li.

Surpreendeu-me por sua essência e simplicidade que me tocou profundamente, ainda mais pelo fato do autor abordar assuntos polêmicos e triviais mostrando que nada é mais importante do que o amor, um sentimento que tem o dom de nos transformar.

O passado não me ofusca, nem o futuro me motiva. Concentro-me no presente, porque é nele que estou destinado a viver.
Pág. 12

A, cuja identidade de gênero é indefinida e nunca se vinculou a alguém, desistiu de compreender sua existência, porque desde que nasceu acorda todas as manhãs num corpo de alguém diferente, na faixa etária de 16 anos, e vive sua vida por um dia.

Nunca vou compreender, não mais do que qualquer pessoa normal entenderá a própria existência. Depois de algum tempo é preciso aceitar o fato de que você simplesmente existe.
Pág. 8

Raramente ocupa duas vezes o mesmo corpo depois que o deixa e, mesmo que não goste, respeita sua individualidade e não interfere em sua vida. Por isso acessa apenas alguns fatos da vida deste individuo. Por um dia, apenas amplia o seu vasto conhecimento e o circulo vicioso inicia novamente.

Diante de tudo o que vivenciou, ele é uma pessoa forte dotada de emoções, anseios e conflitos inerentes de um ser humano. Nunca teve nenhum vínculo ou conheceu cada uma dessas pessoas devido às circunstâncias, porque não queria impactar suas vidas por 24h, mas quebra todas as regras ao acordar no corpo de Justin e se apaixonar irremediavelmente à primeira vista por Rhyannon, sua namorada há um ano.

Vendo o quanto essa jovem tímida, determinada, corajosa e apaixonada é infeliz desnecessariamente, ele decide mostrar o quanto a vida é contagiante. Com isso, ela o atrai cada vez mais, apesar da felicidade ser efêmera.

Enquanto cochilamos, sinto uma coisa que nunca senti. Uma proximidade que não é apenas física. Uma conexão que desafia o fato de que acabamos de nos conhecer. Um sentimento que só pode vir da mais eufórica das sensações: a de pertencer a alguém.
Pág. 25

Sentir qualquer tipo de emoção não impede que ele não interfira na vida que está vivendo, mas acaba mudando algumas coisas com o intuito de ajudar essas pessoas, já que Rhyannon está vulnerável por conta da sua obsessão e da crise na relação amorosa, porque Justin é insensível e distante. Mesmo amando-a, A não cria nenhuma expectativa porque quer que o namorado seja mais afetuoso e gentil com ela.

(...). A devoção gratuita. Preferir o medo de estar com a pessoa errada por não ser capaz de lidar com o medo de ficar sozinho. A esperança tingida de dúvida, e a dúvida tingida de esperança.
Pág. 14

Bondoso na sua forma de encarar o mundo, A aceitou sua condição, passando por inúmeras situações onde viveu em diversos lugares. Sem distinção de gênero, do homem a mulher, da garota certinha que ajuda o irmão drogado, do estudioso ao rebelde, do obeso, do magro ao anoréxico; do drogado, do deprimido ao suicida; do heterossexual, do homossexual ao lesbianismo, etc. Ao longo da leitura, vamos torcendo por cada personagem secundário que ele habita que são tão críveis como nós com nossos anseios, frustrações, angústias, desejos, sonhos, conflitos, problemas cotidianos e muito mais.

Na minha experiência, desejo é desejo, amor é amor. Nunca me apaixonei por um gênero. Apaixonei-me por indivíduos. Sei que é difícil as pessoas fazerem isso, mas não entendo por que é tão complicado, quando é tão óbvio.
Pág. 123

Não imagina que quebrando as regras, está correndo um perigo ainda maior porque Andrew pode colocar tudo a perder porque está a ponto de descobrir que A sequestra o corpo de algumas pessoas. Mesmo não se envolvendo em suas vidas, A deixa-as como encontrou, mas algumas delas ainda tem blecautes de lembranças confusas.

Não sei quem ou o quê você é. Nem o que fez comigo ontem, mas quero que saiba que não vai se dar nessa história. Não vou deixar você me possuir ou destruir minha vida. Não vou ficar calado. Não vou deixar você me possuir ou destruir minha vida. Não vou ficar calado. Sei o que aconteceu e sei que você deve, de alguma forma, ser o responsável. Me deixe em paz. Não sou seu hospedeiro.
Pág. 72

Com uma ligação cada vez mais forte por Rhiannon, não consegue esquecê-la por conta de seu amor avassalador, mas ela só deseja viver plenamente. Por isso, ele quer lhe contar a verdade e encontrá-la como ele mesmo. Por mais incrível e gentil que ele seja, ela acreditará?

Queria que o amor conquistasse tudo. Mas o amor não conquista tudo. Ele não pode fazer nada sozinho.
Ele depende de nós para conquistar em seu nome.
Pág. 242

Mesmo que a relação seja incerta, já que sempre teve a companhia dos livros por todos esses anos, ele conseguirá provar que não está mentindo e que a ama verdadeiramente?

— (...). Todo relacionamento tem um começo difícil. Este é o nosso começo difícil. Não é como uma peça de quebra-cabeça que se encaixa no mesmo instante. Num relacionamento, você tem que dar forma às peças, a cada extremidade, antes de elas se encaixarem perfeitamente.
Pág. 225

E Rhiannon retribuirá seu amor e conseguirá encontrar seu lugar no mundo se aceitando como realmente ė? Depois de tantas existências vazias, A conseguirá ser feliz?

Achei a capa e o design gráfico sensacional, porque refletiu exatamente o enredo, que distinto de outros livros foi dividido em dias, fato que tornou ainda mais original permeado por uma escrita agradavelmente fluída e com personagens muito bem construídos.

Ao concluir a leitura, torcia o tempo todo por um desfecho diferente, mas acabou sendo previsível deixando algumas questões pendentes acerca da jornada de A e de alguns personagens. Até pensei que tivesse uma sequência, mas infelizmente não há. Adoraria ver mais além, já que essas lacunas ficam ao encargo de nossa imaginação.

Um romance fascinante que traz muitas lições subentendidas e reflexivas, onde mostra que o amor — o mais universal e altruísta dos sentimentos — transcende qualquer identidade, gênero, preconceito, raça, cor, credo e religião.

Quando o primeiro amor acaba termina, a maioria das pessoas sabe que outros virão. Elas não acabaram para o amor. O amor não acabou para elas. Nunca será igual ao primeiro, mas será melhor, de diferentes modos.
Pág. 272

Não tem como não se emocionar em algumas passagens com cada personagem presente na trama que por um dia tiveram suas vidas ligadas ao protagonista, que está em busca do amor mais puro e incondicional a qualquer custo.

A bondade tem a ver com quem você é, enquanto a gentileza tem a ver com o modo como quer ser visto.
Pág. 52

Não tenho palavras suficientes para expressar todo o turbilhão de emoções que senti durante a leitura, porque depois de Métrica, de Colleen Hoover, e de A Culpa é das Estrelas, de John Green, este foi mais um livro recheado de post-its, por possuir uma citação mais belíssima do que a outra.

As pessoas não dão valor à continuidade do amor, assim como não dão valor à continuidade do corpo. Não percebem que a melhor coisa sobre o amor é sua presença constante. Assim que você estabelece isso, sua vida ganha uma base extra. Mas se você não pode ter essa presença constante, só tem uma base para sustentá-lo, sempre.
Pág. 53

Um livro arrebatadoramente cativante e sensível que fala sobre identidade, empatia, altruísmo e amor de um jeito singelo e, ao mesmo tempo, sincero que tocará o coração de qualquer leitor, independente de gênero ou idade. Ele é um daqueles romances humildemente intensos que perdurarão em nossa memória, porque é inesquecível, seja pela pureza dos sentimentos emanados ou pelo brilhantismo do altruísmo do amor em cada página.

Esta história encantadora, que me trouxe muita serenidade, me lembrou de uma citação de um texto lindo que li há muitos anos atrás: The true nature of a heart is seen in its response to the unattractive. "Tell me whom you love," Houssaye wrote, "And I will tell you who you are." (A verdadeira natureza de um coração é vista na maneira como ele vê ao que não é atraente. “Diga-me quem você ama”, Hossaye escreveu, “E eu te direi quem é.”).

No fundo, há um “A” dentro de cada um de nós. Basta acreditarmos que tudo é possível com essência, sinceridade e amor.

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