Memórias de um Vendedor de Mulheres - Giorgio Faletti

MEMÓRIAS DE UM VENDEDOR DE MULHERES
GIORGIO FALETTI
Intrínseca

Este livro é o terceiro romance do autor que leio, cujo original em italiano intitula-se Appunti di um venditori di donne, com 288 páginas.

Bravo é um homem misterioso, fascinante, enigmático, esperto e ávido, mas rancoroso e cínico por conta da sua deficiência, fruto de uma agressão sádica de violência (não direi qual é, para que vocês possam se chocar ao ler a primeira frase do livro, mas o que levou a isso só será revelado no final), fruto de sua insolência. Há anos, carrega em seu subconsciente uma lembrança dolorosa.

...não se agite, garoto, comporte-se. Nada de bancar o bravo. Se você se comportar, também me comporto e não o machuco demais. Entendeu? Nada de bancar o bravo...

Pág. 53


Ele é um vendedor de mulheres dispostas a vender o corpo para ganhar dinheiro. Ambicioso e de boa aparência, leva uma vida solitária convivendo com amigos desesperados como Daytona, um jogador inveterado que tem suas ambições sempre frustradas; e Lúcio, seu vizinho cego e músico, que tem em comum o amor pelos criptogramas.

Um dia conhece a faxineira Carla, uma mulher determinada, incrédula da própria beleza, consciente do seu poder sobre os homens e decidida a conquistar o mundo, que desperta nele sentimentos adormecidos. Contrata-a para substituir Laura, que aproveita essa oportunidade de mudar de vida por levar uma existência miserável, já que o que ganha mal dá para a sua subsistência.

- Estou cheia desta vida. Estou cheia de dar duro por uns trocados. Estou cheia de ver à minha volta mulheres que envelheceram sem nunca terem sido jovens. Estou cheia de transar com meu chefe para manter o emprego ou com meu senhorio para pagar o aluguel.

Pág. 68

Os homens que usam os serviços de Bravo tem medo, mas não tem tempo por conta do trabalho. Ele elimina isso e oferece esse tempo vendendo mulheres e ganhando uma boa grana, porque nesse meio há gente corrupta e poderosa que tem suas fraquezas.

Trabalha com várias mulheres, entre elas: Barbara, cativante, fantástica, entusiasmada e apaixonada pela vida; Sorella, uma viciada em heroína; Cindy, introvertida e atormentada; Laura, uma modelo e manequim que se prostitui, cujo cliente é Salvatore Menno, vulgo Tulipa, um criminoso reincidente psicopata que faz parte do bando de Tano Casale, um chefão mafioso.

- Bravo, é a Laura. Aconteceu uma confusão. Saí com o Tulipa. Não tive como negar e ele me bateu de novo. Estou com medo. Qualquer dia desses, ele vai me matar. (...).

Pág. 29

As coisas sempre foram claras, nunca houve represálias com Stefano Milla (um inspetor da polícia, que tem os dois lados da moeda, porque passou para o lado oposto e colaboram profissionalmente) em seu caminho ou pressões com seus negócios escusos, mesmo tendo sido preso por exploração de prostituição.

Ao ver seus planos com Laura frustrados, Tulipa ameaça Bravo e, ao tentar matá-lo, acaba sendo morto por alguém que este não tem a menor ideia de quem seja, porque ao sofrer coerção ouviu um som sufocado.

Para afastar de você um marginal que estava acabando com a sua vida, quase morri ontem à noite. E, enquanto eu estava literalmente cavando minha própria sepultura, você estava trepando com seu artista de merda. E agora vem me dizer que acha que está apaixonada? Eu gostaria pelo menos do benefício da certeza, por aquilo que me custou...

Pág. 89

Como se não bastasse, se vê no meio de uma conspiração política depois que suas três garotas são brutalmente chacinadas em uma mansão de um poderoso financista. Até que um dia, seu amigo é assassinado e Bravo acaba sendo caçado pela polícia, pelo serviço secreto, pelo crime organizado e pelos militantes das Brigadas Vermelhas, colocando sua vida em risco, mas o curioso é que seus tráficos torpes são como água cristalina em meio aos crimes sombrios e sinistros.

“Apenas os tolos e os inocentes não têm um álibi.”
Pág. 106

Sem a proteção de um álibi e com o intuito de descobrir quem está por trás disso, ele fica se questionando sobre algumas pistas do enigma sem resposta: “Por que uma das moças foi morta no lugar de outra? Por que entregaram um envelope cheio de papéis picados em vez do dinheiro?”, mas a única pista deixada por seu amigo antes de morrer foi “Cobianchi”. O que significa? Qual o verdadeiro papel de todos os envolvidos nessa história?

O livro é narrado em primeira pessoa e tanto a diagramação quanto a revisão estão impecáveis. Uma coisa que apreciei foi que os xingamentos e os palavrões não foram suavizados, como costumamos ver em alguns livros.

(...), os livros são uma maldição. Os otimistas estão convencidos de que, lendo livros, combatem a própria ignorância, os realistas sabem que têm apenas uma prova da própria ignorância. A medida da falta de conhecimento é, na verdade, o que distingue as pessoas. A idade, o dinheiro e a aparência não têm importância alguma: a verdadeira diferença está na ignorância.

Pág. 93

Apesar de a narrativa ter demorado a tornar-se ágil, achei cansativo por sentir falta da ação desenfreada e do suspense contidos em outros livros do autor, que eram thrillers de suspense (já estava desanimando, quando a reviravolta ocorreu na metade do livro), mas não dá para compará-los devido às memórias e reflexões do personagem, o que o torna humano apesar dos dissabores, que narra sobre o seu cotidiano ligado a tirania política do poder e ao submundo do crime.

Apesar de ter gostado, achei que este não é o melhor livro do autor, porque a narrativa é bem distinta dos outros. Gostei muito de alguns personagens, entre eles: Bravo, Carla e Lúcio que se empenham em construir e destruir a si mesmos, já que a história é focada nos três.

A história foi dividida em duas partes. Inicia-se
em 1978, quando o ex-primeiro ministro italiano foi sequestrado e o país vive um clima tenso, enquanto Milão está à beira de confronto políticos e ameaçada pela criminalidade. Para contrabalançar tudo isso, há diversões excessivas em cassinos clandestinos, com jogos, entorpecentes, restaurantes, hotéis de luxo, discotecas e cabarés. E termina dez anos depois, com um desfecho satisfatório, mas eu esperava mais.

Em nenhum momento me passou pela cabeça quem estava por trás de tudo, porque algumas pessoas serviram de bode expiatório por estarem no lugar e na hora errados. Foi chocante perceber isso na reta final, cujas peças se encaixaram nos lugares, pois o que tornou engraçado foi que nem tudo era o que aparentava ser, quando deu a reviravolta no enredo, deixando-o intenso, o que foi um alívio.



21 comentários:

  1. Oi
    muito boa sua resenha.
    Desse autor eu li "Eu Mato" e gostei muito. Agora é aguardar pra ler este.
    Bjs

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  2. KassiaCrislayne04/06/2012, 21:32

    Este é mais um lançamento que me interessou. Nunca li nada do autor, mas só ouvi boas indicações, então eu quero muito ler. Só não gostei dessa "enrolação" pra agitar... rsrs

    Abs.

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  3. Olá!
    Achei que o livro tem um clima bem pesado, sua resenha está ótima, mas não fez meu gênero.

    Bjos!!

    Cida

    @c_i_d_a

    http://www.moonlightbooks.net/

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  4. Oi Carlinha!

    Ainda não li nenhum livro desse autor, mesmo com todas as críticas boas que já li. Faltou dinheito mesmo para a compra kkkk

    Anotada aqui a dica \o/

    Bjs!

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  5. Janine Stecanella04/06/2012, 23:29

    Oi Carla, tudo bem? Faz tempo que observo os livros do autor mas nunca fui até o fim em uma compra. Sua resenha foi a mais completa e explicativa (sem spoilers) que pude encontrar como referência. Mesmo não sendo seu livro preferido, você destacou pontos que me chamam muito atenção em livros do gênero. Assim que a pilha diminuir, quero ler algo do autor!


    Beijo!
    - Nine
    http://www.estantedanine.com/ 

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  6. Oi, Carla!

    Li a resenha e te digo com toda certeza, estou correndo pra bem longe desse livro rsrs


    Beijos
    Lucian

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  7. Nunca li nada desse autor, e acho que esse não é a melhor escolha para conhecê-lo.

    Apesar de me agradar o mote, acho que o livro tem que pegar logo nas 10 primeiras páginas, para valer a pena.
    Se esse só começa a ficar bom depois da metade, já perdeu ponto comigo.
    Mas claro que isso não desmerece o livro, fiquei curiosa em alguns pontos, e leria o livro na boa. Mas acho que precisaria ler um outro livro do autor antes, para assim saber do seu estilo.
    Ótima resenha Carla, como sempre!
    beijinhos!

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  8. Oi, Kassia.

    Se você começar a ler, comece por "Eu Mato", que é o melhor livro dele que li.

    Depois de ter lido "Eu Mato" e "Eu sou Deus" foi complicado a leitura pela narrativa lenta, mas mesmo assim a história não desmerece, porque o final foi bem revelador.

    Beijos.

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  9. Oi, Leninha.

    Como já respondi acima para a KassiaCrislayne, comece por "Eu Mato", que é o melhor livro dele que li.

    Depois de ter lido "Eu Mato" e "Eu sou Deus" foi complicado a leitura pela narrativa lenta, mas mesmo assim a história não desmerece, porque o final foi bem revelador.

    Leia e tire suas próprias conclusões. Adoraria ver a sua opinião. ^^

    Beijos.

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  10. Oi, Janine.

    Fico lisonjeada com o elogio. Muito obrigada.

    Do autor li "Eu Mato" e "Eu sou Deus", que são ótimos se você curte um thriller de suspense. Comece por esses dois, antes de aventurar-se neste aqui, porque a narrativa é bem distinta.

    Beijos.

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  11. Oi, Lu.

    Já até imaginava, porque sei que você aprecia romances diferentes. rs.

    Beijos.

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  12. Oie Carlinha!
    Menina, eu gostei do livro! hahahah
    Mas acho que foi por que eu já sabia mais ou menos como ele seria (a Helô falou dele na Turnê) e já fui ler esperando algo diferente de "Eu Mato".
    Claro que nem tudo nele me agradou, mas não entrou para a lista de "por que motivo eu li esse trem?" hauhauhaua


    Bjuss

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  13. Oiê! Uau! Se precisasse de uma palavra para essa resenha seria essa: UAU! A história é muito boa!!! Fiquei com muita vontade de ler. Quando você falou que os três personagens principais (Bravo, Carla e Lúcio) se empenham em construir e destruir a si mesmos, a vontade simplesmente triplicou.

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  14.  Oi, Danielle.

    Sério? [risos].

    O personagem é muito interessante, ainda mais quando você vê tudo pelo que passou na infância. Foi assustador esta parte!

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  15. Acredita que olhei sem muita vontade para esse livro ontem na livraria??? hahaha
    E agora depois de ler sua resenha estou louca de vontade para ler!!!
    Eu gostei do jeito que o personagem pareceu a meus olhos...

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  16.  Oi, Inara.

    Se você curte romances desse gênero, vai gostar, mas não é o melhor do autor.

    Beijos.

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  17. Oi, Gabi.

    Sim, a trama é densa, mas não tanto quanto "Eu Mato", que me deixou de cabelos em pé!

    Já estou aprendendo a não criar tanta expectativa, para não sair frustrada.

    Beijos.

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  18. Oi, Carlinha!

    Esse não faz muito o meu gênero e só pelo título dá para perceber que é um livro com uma trama bem densa, né?
    Que pena que ele não foi tão bom quanto os outros =/ É impossível não comparar obras de um mesmo autor e criar expectativas...

    Beijos

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  19. Oi, Lilian.

    E eu, então? Estava com altas expectativas e, apesar de ter apreciado o enredo, achei que este não foi o melhor do autor.

    Tenta ler "Eu Mato" e este. Você perceberá uma enorme diferença.

    Beijos.

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  20. Ei, Carlinha, acho que esse é um livro que seria capaz de prender a minha atenção e me emocionar. Não conhecia o livro ainda, e estou anotando a dica! 

    Beijos!

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  21. E eu estava com tantas esperanças em relação a esse livro, rs... Vou me aventurar com Eu Mato primeiro. 

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