A FILHA DA MINHA MÃE E EU
MARIA FERNANDA GUERREIRO
Novo Conceito
Este é o primeiro romance de estreia da autora que leio, com 272 páginas, que retrata o relacionamento entre mãe e filha, que é tão intenso e, ao mesmo tempo, tão frágil.
MARIA FERNANDA GUERREIRO
Novo Conceito
Este é o primeiro romance de estreia da autora que leio, com 272 páginas, que retrata o relacionamento entre mãe e filha, que é tão intenso e, ao mesmo tempo, tão frágil.
“Toda relação, mesmo entre pais e filhos, é uma via de mão dupla na qual se ensina na mesma medida em que se aprende.”
Mariana sempre teve um relacionamento conflituoso com sua mãe, porque Helena era reservada, fechada, dedicada, severa, mas doce, protetora e zelosa, que abdicava de alguma coisa para proteger os filhos. Ao engravidar, começa a rever seus conceitos rumo à compreensão e ao perdão, já que sua mãe teve um passado e uma infância extremamente difícil, aonde chegou até a passar fome. A partir disso, relembra todos os momentos que passou ao lado da família com inseguranças, sobressaltos e paixões.
Tito, seu pai, teve uma infância simples e humilde marcada por uma doença, que desencadeou a superproteção da mãe que, mais tarde, viria a ser um dos ressentimentos da esposa por não se desvincular da família. Era um jovem simpático, pretensioso e de boas intenções quando conheceu a aparentemente frágil Helena, porque tinha um senso de abnegação de protegê-la e tirá-la dessa vida de padecimento, já que ela carrega um grande rancor e mágoa da mãe, uma mulher egoísta, por motivos que descobriremos ao longo da história que afetará e abalará a todos de modo brutal.
- A senhora não tem direito nenhum desde que abandonou a mim e aos meus irmãos há quase quinze anos!Pág. 40
Por isso, casou-se cedo e acabou desistindo dos sonhos para cuidar dos filhos. Morria de ciúmes da filha com Tito, o que acabou virando uma competição entre as duas, porque ele sempre foi amigo, calmo, confidente, apaziguador e sempre disposto a ouvir sobre medos, angústias e alegrias, enquanto ela não sabia demonstrar seus sentimentos, pois era fechada, não levava desaforo pra casa e tampouco admitia seus erros, mas tinha uma solução para tudo, porque era forte e capaz, com um caráter e postura inabaláveis.
Mariana sempre foi próxima do irmão, Guga, sempre frágil, inseguro, rebelde, provocativo, desafiador, grosso, egoísta, irracional, mas doce e engraçado. Incomodava-se com o fato da mãe mimá-lo e protegê-lo tanto, mas tinha medo de magoá-la. Por isso, sempre agia como mãe e não como filha. Apesar de sua maneira torta de encarar a vida, Helena sempre amou os dois, mesmo tendo passado por situações terríveis.
- (...). Eu vou sempre estar ao seu lado também. Não importa o que aconteça. Você é minha filha e eu te amo desde o dia em que soube que estava grávida de você. E assim vai ser até o dia em que eu morrer. (...).
Pág. 147
Inconscientemente e a contragosto, Mariana se espelha nela, porque vivia competindo na sua maneira de ser e agir, como forma de chamar a atenção, mas isso a consumia em angústia, já que eram duas estranhas que não sabiam demonstrar o sentimento que a outra precisava. Por isso, sempre buscou o refúgio e o apoio do pai, porque sua relação materna passou a ser um círculo vicioso de rejeição e culpa.
(...): minha mãe era como um doce de mil folhas, com várias camadas, e só se chegava ao creme tirando cada folha antes.
Pág. 110
A história dá muitas reviravoltas que trará muita dor e angústia para a família, entre elas: uma descoberta onde o mundo desaba na cabeça de Guga.
Teve vários momentos comoventes, chocantes e tristes, onde vemos até onde uma mãe encontra forças para salvar um filho.
- Olha aqui, Guga, mas presta atenção! Se eu precisar conhecer o inferno para te tirar de lá, eu vou!
Pág. 180
Apesar de ter encontrado alguns erros de revisão, a leitura fluiu agradavelmente com clareza, por conta da escrita singela e dos capítulos envolventes, que gerou um torvelinho de emoções e sentimentos conflitantes, porque o livro aborda temas bem atuais, como: adoção, gravidez, aborto, abandono e rejeição familiar, abuso infantil, depressão, dependência química, alcoolismo e sexo.
Gostei de ver uma pequena alusão de uma história que amo “Pegadas na Areia", de Margareth Fishback Powers. Foi um momento lindo no livro!
Uma das grandes lições aprendidas é que nossa mãe é uma pessoa diferente de nós com sua própria essência e vivência que moldaram sua existência e isso reflete na educação que recebemos. Afinal, ser mãe é padecer no paraíso em meio aos sentimentos de amor, entrega, medo, tristeza, compreensão, aconchego, erros e virtude.
E foi assim, entre tantos desencontros, que descobri que existiam duas Marianas: a filha da minha mãe e eu.
Pág. 29